Encerrando a série sobre Colecionismo e Bibliofilia, a professora Marisa Midori aborda na sua coluna Bibliomania desta semana o tema da resistência, recorrendo mais uma vez à produção da diretora turca Esmer Pelin, foco da mostra de cinema promovida pela plataforma Mubi.
Como relembra a professora, no documentário O Colecionador, lançado em 2002, a diretora nos apresentou o universo de seu tio Mithat. “Com ele, caminhamos pelas ruas, becos e galerias de Istambul, onde diariamente, e de forma meticulosa, nosso personagem buscava seus objetos de coleção”, comenta Marisa.
“Em 10 to 11, uma produção franco-turca de 2009, Esmer Pelin revisita nosso colecionador em um longa ficcional. O título pode ser entendido como 10 para as 11, em uma referência à coleção de relógios do protagonista”, explica, contando ainda que, com a precisão de um especialista, tio Mithat observa a resistência de seus aparelhos. “E anota em suas costumeiras listas que um deles apresenta 10 minutos de defasagem em relação ao horário normal – após 193 dias de funcionamento.”
“Mas, 10 para 11 é também o salto do volume de uma enciclopédia turca para o outro – o que é infinitamente raro. Uma vez mais, a noção de defasagem se coloca. Uma e outra interpretação nos situa diante de uma vida que respeita o compasso do tempo, onde a cultura material estabelece o nexo entre o passado e o presente. O colecionismo, nesse sentido, se torna uma forma de resistência contra o vazio”, afirma Marisa.
A professora ainda apresenta uma outra questão: “(…) há uma estrutura que perpassa esse universo e que se choca com ele: a cultura material não está alheia aos interesses do capital. Tudo, no fim das contas, converte-se em mercadoria. E é neste ponto que o sentido de resistência do colecionismo se impõe”. No final, como diz, “se ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’, só nos resta o caminho da resistência”.
Bibliomania
A coluna Bibliomania, com a professora Marisa Midori, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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