“Ler bons livros não é só gostoso, é a melhor maneira de se conectar com os outros”, afirma a professora Marília Fiorillo logo no início de sua coluna para a Rádio USP, citando a seguir um estudo que ela considera muito atual neste período “de extrema convulsão e crueldade que estamos vivendo”. De acordo com esse estudo – não tão novo e coordenado por dois psicólogos -, a capacidade de sentir empatia está intimamente associada ao repertório literário e artístico do indivíduo. Aqueles que leem boa ficção com frequência desenvolvem uma habilidade de reconhecer, através dos personagens, sentimentos e emoções pelos quais nunca passaram ou só passaram vagamente. “Assim, é a imaginação, não o senso de dever, que nos torna mais éticos, é ela (a imaginação) que amplia o nosso repertório emocional e nos permite penetrar, entender e conviver melhor com um tecido de relações sociais muito complexo, em grande parte nunca vivenciado em nossa própria pele”.
O estudo partiu de experimentos baseados na teoria da mente, uma abordagem sociocognitiva cuja técnica permite medir os estados emocionais dos participantes – nesse caso, a capacidade de identificação. “Aqueles que possuíam um cabedal maior e mais intimidade com a literatura superaram de longe aqueles acostumados a textos simplesmente teóricos ou a best sellers”. Ou seja, ao nos tornarmos leitores mais participativos, preenchendo com a nossa imaginação as lacunas do texto literário, tendemos a formar esse conjunto de compreensão de situações pelas quais nunca passamos. Isso vai nos tornar, ao mesmo tempo, “menos preconceituosos e mais preparados a valorizar comportamentos e reações que, à primeira vista, poderiam parecer bizarros”.
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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