HC identifica pacientes internados com risco de disfagia para posterior tratamento especializado

O Hospital das Clínicas criou um protocolo cujo intuito é estabelecer um fluxo padronizado para manejo do paciente com risco de broncoaspiração

 20/03/2023 - Publicado há 1 ano
A disfagia é uma doença da deglutição – Foto: Freepik
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Hoje, 20 de março, é comemorado o Dia Nacional de Atenção à Disfagia, que alerta sobre seus riscos e possíveis tratamentos. Pensando nisso, o Hospital das Clínicas lançou uma campanha para alertar a população para a dificuldade de progressão do alimento ou da saliva, decorrente de obstrução ou distúrbio funcional dos órgãos envolvidos na deglutição. O risco maior da disfagia é a broncoaspiração, quando substâncias entram nas vias respiratórias, atingindo o pulmão.

Quem sofre de disfagia?

“A disfagia é uma doença da deglutição”, explica Cláudia Regina Furquim de Andrade, titular de Fonoaudiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Na deglutição normal, o alimento vai direto para o estômago, enquanto na broncoaspiração o alimento vai para o pulmão. Isso é uma complicação porque gera pneumonia. “A aspiração é sempre que o alimento passa do nível de prega vocal e atinge as vias aéreas inferiores”, diz. 

Pessoas de qualquer idade que ficam em intubação orotraqueal prolongada por mais de 48h, por conta do distúrbio no sistema, correm o risco de disfagia. Além disso, pessoas traqueostomizadas, que usam aparelhos para respirar ou até a ventilação mecânica, que estão com níveis de consciência e cognição baixos, com doenças neurológicas, respiratórias e que já passaram por cirurgias da cabeça e pescoço, além de idosos, são os mais suscetíveis a terem disfagia. 

Tratamento 

O Hospital das Clínicas criou o Protocolo de Prevenção de Broncoaspiração na admissão do paciente para identificar o mais rápido possível os que têm risco de disfagia, visando a estabelecer um fluxo padronizado para manejo do paciente com risco de broncoaspiração. Os pacientes são identificados por meio de pulseira prata, na qual está escrito “risco de broncoaspiração”. 

O tratamento começa por uma avaliação fonoaudiológica completa, para determinar o grau de risco de disfagia. Depois disso, é feita uma proposta de tratamento individual. “Na desospitalização, a gente tem mais de 70% dos pacientes recuperados com a fonoaudiologia dentro do hospital, mas 30% dos pacientes vão continuar necessitando de um atendimento fonoaudiológico de médio a longo prazo”, explica a fonoaudióloga.

O desafio é colocar a pulseira de broncoaspiração o mais rápido possível, ela diz. Esses 30% precisam sair do hospital com indicação de tratamento fonoaudiólogo na rede ou em algum ambulatório especializado em disfagia. O grande problema é que não há em todas as instâncias fonoaudiólogos especializados, o que dificulta a busca por tratamento.

Consequências

“Com o envelhecimento, todo o sistema motor e as funções naturais, essas que a gente não presta atenção, são fragilizadas”, lembra Cláudia. Muitas vezes, a família, vendo a dificuldade de um parente em engolir e engasgar ou tossir muito, pode tentar se adaptar e oferecer comidas pastosas, que não possuem integridade nutricional. Isso pode levar a uma desnutrição.

“O bom seria se a gente tivesse referências específicas para a disfagia, com nutricionista, psicólogo, fonoaudiólogo e médico”, diz a médica. “É todo um processo de sensibilização, tanto das políticas de saúde para essa área da fonoaudiologia quanto da própria sociedade”, complementa Cláudia. 

Um dos maiores problemas é a busca por profissionais especializados na área, revela a médica. “Um fonoaudiólogo não sabe tudo da fonoaudiologia”, diz. Hoje existem diversas especializações, e a área que cuida da disfagia é uma delas. Por isso, é importante procurar um médico que saiba tratar esse problema especificamente. 


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