“A arte é uma forma de pensar o mundo e um exercício de tensionamento do real”, comenta Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens (clique no player acima). É essa reflexão que pontua no novo livro, Políticas da Imagem, que a professora e artista da FAU-USP lança pela Editora Ubu.
“A edição foi escrita ao longo da pandemia. Reúne reflexões sobre as políticas da imagem presentes em vários projetos artísticos que venho desenvolvendo desde o começo dos anos 2000”, explica a professora. Os artigos, no entanto, não tratam dos trabalhos da artista. “São elaborados em diálogo com obras de artistas pensadores, de Eisenstein a Antonioni e de Rejane Cantoni e Lucas Bambozzi a Harum Farocki a Adam Harvey e Trevor Paglen.”
Embora inéditos, os textos resgatam trechos que Giselle Beiguelman escreveu para as revistas Trópico, SeLecT e Zum. Também revisitam obras anteriores da artista, como Futuros Possíveis, Memória da Amnésia e Coronavida, propiciando uma discussão a partir do campo das imagens e suas relações com os novos formatos de criação, distribuição e controle que se interpõem aos processos de digitalização da cultura.
Com temas específicos, os seis ensaios que compõem o livro dividem um pressuposto que atravessa a todos. As imagens, segundo avalia a colunista, tornaram-se os elementos principais de mediação do cotidiano, ocupando o centro da comunicação à infraestrutura, passando pelas biotecnologias e sistemas de leitura da fisiologia dos corpos. “Ao falar em políticas da imagem aqui, portanto, não estamos falando apenas das associações entre política e imagem. Seguindo um trilha aberta por Jacques Rancière, acredito, conforme elaboro ao longo deste livro, que as imagens são, para além de lugar da transmissão de ideias e linguagens, o próprio campo das tensões políticas.”
Completam o livro uma análise das ambivalências da cultura da memória no tempo do digital, dos impactos da overdocumentação aos negacionismos históricos mediados por Inteligência Artificial, enfim, um mergulho nas políticas das imagens do Brasil. “Com foco no governo Bolsonaro, o último ensaio do livro contempla a instrumentalização das redes pela extrema-direita nacional, os memes do período e, inevitavelmente, a vida durante o desgoverno da crise sanitária do coronavírus”, comenta a professora.
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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(coluna atualizada em 21.06)