Fala e comportamento do presidente prejudicam isolamento social

Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) revela que as cidades em que o presidente teve mais votos foram as que menos respeitaram o isolamento social

 06/05/2020 - Publicado há 4 anos

No Reflexão Econômica desta semana, o professor Luciano Nakabashi comenta o artigo Palavras importam, de pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP) e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. O estudo mostra que nas cidades onde o presidente Jair Bolsonaro teve mais votos na eleição de 2018 e onde as pessoas têm mais acesso à informação, como a TVs, internet e jornais, a queda no isolamento social foi maior após as falas e o comportamento do presidente contra a quarentena.

Para o professor, atualmente, já se percebe com mais clareza e de forma mais palpável todos os problemas decorrentes da covid-19. “Percebemos que a taxa de mortalidade não é tão baixa como se pensou inicialmente e não atinge somente idosos ou pessoas com comorbidades. Essa é uma parte da população que tem uma mortalidade maior, mas atinge praticamente toda a população, vimos isso em outros países e agora no Brasil.”

Nakabashi alerta que o Brasil ainda está numa curva ascendente da covid-19 e naqueles municípios com menos isolamento social provavelmente os problemas serão maiores, com mais pessoas doentes e, consequentemente, óbitos. “Essas cidades também terão mais sobrecarga no sistema de saúde, um importante elemento na taxa de mortalidade, pois as pessoas que precisarem de hospital para se recuperarem da covid-19, sobretudo os casos mais graves, não terão espaço nesses locais.”

O Brasil tem alguns problemas em relação ao resto do mundo, diz Nakabashi, “parece que o problema tem que chegar para ver que é real”. O professor enfatiza que o presidente age de forma irresponsável numa crise grave, e no Brasil será ainda mais grave, em função do sistema de saúde bem menos preparado que o dos países desenvolvidos e pela parcela da população que vive com menos recursos e de forma mais aglomerada, como nas favelas, por exemplo. “Essas pessoas já apresentam mais comorbidades, têm menos recursos para lidar com essa situação e recebem menos informações, muitas vezes ainda vivem em ambientes mais insalubres e tudo isso vai refletir na taxa de mortalidade.”

Recentemente, o presidente atribuiu a culpa dos problemas gerados pela covid-19 aos governadores, que estão tomando a liderança do enfrentamento da pandemia. Para Nakabashi, isso acontece pela falta de liderança do presidente, que tem causado mais incerteza, fazendo com que o problema seja maior em termos de mortalidade e, provavelmente, isso vai refletir no apagão que atingirá o sistema de saúde e terá efeitos econômicos. “Parece surreal, ele joga tudo no colo dos governadores, como se não tivesse nada a ver com isso.”

Ouça a coluna Reflexão Econômica na íntegra no player acima.


Reflexão Econômica
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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