Etanol vem sendo esquecido nos últimos anos, apesar de ser uma opção sustentável

De acordo com Pedro Luiz Côrtes, desde o governo Michel Temer o etanol é pouco valorizado, apesar de ser uma opção de combustível sustentável, que já possui toda a cadeia de produção instalada e adaptada ao País

 20/01/2023 - Publicado há 1 ano
Em meio à energia solar, eólica e hidrogênio verde, o velho e bom etanol parece ter sido esquecido – Foto: João Lima / Pixabay-CC
Logo da Rádio USP

O último dia do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, acontece hoje (20). O governo brasileiro foi representado pelos ministros da Economia, Fernando Haddad, e do Meio Ambiente, Marina Silva. Ambos tocaram em um assunto caro ao novo governo: a volta do Brasil à agenda internacional. A ministra também esteve com Greta Thunberg, ativista ambiental sueca. 

A ministra do Meio Ambiente chegou, inclusive, a falar sobre metas ambiciosas voltadas ao clima e à proteção à biodiversidade, enquanto Haddad contou sobre os planos de reindustrialização com base na transição ambiental. Na segunda-feira (16), o ministro chegou a afirmar que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) quer financiar os projetos de energia renovável no Brasil. 

O que assusta, porém, é que, em meio à energia solar, eólica e hidrogênio verde, o velho e bom etanol parece ter sido esquecido. E isso não aconteceu neste governo. Desde Temer, o assunto do etanol vem sendo esquecido. “Nós já temos toda a cadeia pronta: produção, distribuição, comercialização e boa parte da frota adaptada, preparada para o uso do etanol”, lembra Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE). 

Etanol e a geopolítica 

Essa discussão vem em bom momento, já que nos últimos anos – diga-se de passagem, os últimos dois governos, Temer e Bolsonaro – a cotação do petróleo sofreu com a volatilidade do mercado internacional, que afeta diretamente o preço dos combustíveis aqui no Brasil. A desoneração dos tributos federais sobre combustíveis, medida tomada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, foi renovada pelo novo governo. A gasolina e o álcool terão essa redução até dia 28 de fevereiro.

Pedro Luiz Côrtes – Foto: IEA-USP

Côrtes lembra que o etanol, diferentemente da gasolina, não sofre com questões geopolíticas que afetam a cotação do petróleo, como aconteceu nas crises da década de 70. Pode sofrer com mudanças no preço do açúcar, mas não é utilizado como ferramenta política e não sofre com questões como a guerra na Ucrânia. Por isso, seria uma alternativa muito boa, mas não é considerada. 

Haddad já anunciou que pensa voltar com os impostos federais sobre a gasolina, álcool, querosene de aviação e gás natural veicular. Essa medida serviria para aumentar a arrecadação dos Estados, mas a decisão cabe a Lula, diz o ministro.  Uma solução seria “voltar os preços da gasolina e manter a desoneração do etanol, ou pelo menos parcialmente, como uma forma de incentivar o uso desse combustível”, diz Côrtes. 

Segundo o professor, a desoneração pode mexer com a inflação e com certeza causará um dissabor junto à população. Outro ponto discutido é a alteração do preço diretamente na Petrobras, que vende o petróleo para fora e importa. “Se ela [Petrobras] resolver praticar preços menores, isso poderia causar uma distorção muito grande no mercado, porque hoje ela já não consegue abastecer 100% do mercado nacional. Ela abastece cerca de 70% do mercado, então os importadores privados, que vão suprir cerca de 30% do restante, poderiam ter o seu negócio inviabilizado e simplesmente parar de importar”, explica ele. O governo provavelmente não mexerá nessa tabela de preços. 

Amigo do meio ambiente

O etanol é uma grande opção de combustível sustentável, que já possui toda a cadeia de produção instalada e adaptada ao nosso país – além de ser possível há anos abastecer os carros com ele. “O etanol em si é neutro. O CO2 que ele joga para a atmosfera, quando é queimado, é recuperado quando do plantio da próxima safra”, explica Côrtes. 

Existe uma pequena emissão associada ao transporte do etanol, feita por caminhões movidos a diesel. Porém, em comparação a outros combustíveis, é mínima. Também existe a questão do plantio, que ocupa grandes espaços de terra, entre outras coisas relacionadas. Mesmo assim, ainda é uma ótima opção. 

Quando se  pensa que a energia solar e a eólica custam muito dinheiro, principalmente de instalação, e não são aconselháveis a todo o território brasileiro, por conta de diferenças de incidência solar e de correntes de ar, o etanol se apresenta como o combustível do futuro. Pelo menos em nosso país. 


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.