Escalada do aumento de juros pode levar a economia brasileira a uma recessão profunda

Se, por um lado, os juros controlam as demandas da economia, por outro, também encarecem o crédito, o que torna a situação das pessoas físicas ou jurídicas endividadas ainda mais difícil, diz Nakabashi

 22/06/2022 - Publicado há 2 anos

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No Reflexão Econômica desta semana, o professor Luciano Nakabashi fala sobre o ciclo de aumento de juros no Brasil. Segundo o professor, esse ciclo tem sido necessário, em função da inflação elevada no Brasil e em outros países, o que significa que boa parte dessa inflação é importada. Nakabashi lembra que aumentar a taxa de juros é um instrumento que se tem para controlar a demanda da economia, mas que a situação atual da economia brasileira é de desemprego alto e salário médio em queda, início de aument0 da inadimplência, redução de poupança das famílias e aumento da pobreza, fatores que mostram as dificuldades da economia.

Se, por um lado, os juros controlam as demandas da economia, por outro, também encarecem o crédito, o que torna a situação das pessoas físicas ou jurídicas endividadas ainda mais difícil. Nakabashi cita fatores que causam incertezas e que geram dificuldades para a economia brasileira, como a covid-19, a guerra entre Rússia e Ucrânia, inflação em outros países, com destaque para a economia dos Estados Unidos, além da eleição no Brasil, com o presidente atacando outros Poderes e ameaçando em vários momentos não deixar a cadeira caso perca a eleição. “São incertezas que têm gerado ainda mais dificuldades para a economia brasileira e fica difícil saber o que vai acontecer no próximo ano.”

Existe a expectativa de aumento de juros nas próximas reuniões, mas seria o momento, mesmo com a inflação alta, de o Banco Central atingir o pico e estabilizar a taxa de juros, saindo do ciclo de aumento. “Mesmo com a inflação alta, esse grau de incerteza e a economia já fraca indicam que a economia brasileira pode entrar numa recessão relativamente profunda devido ao processo de aumento de juros.”

Nakabashi também lembra que a parte fiscal do governo ainda não está resolvida, pois a melhora que aconteceu recentemente está relacionada ao processo inflacionário, que aumentou as receitas, e ao congelamento do aumento de servidores. “O processo de aumento de juros começa a afetar a dinâmica da dívida da economia, ou seja, o déficit nominal do governo federal. Devido a essa incerteza e à possibilidade de jogar a economia numa recessão mais profunda, o ideal seria que o Banco Central estabilizasse os juros e o segurasse nesse patamar já bastante elevado. O ideal é deixar esse cenário clarear um pouco e ver o efeito de todo esse processo de aumento de juros para os próximos meses na economia.”

Uma das justificativas para continuar o aumento dos juros, diz Nakabashi, é ancorar as expectativas, “mas elas afetam os preços via mercado de trabalho, e os salários não estão aumentando, além do desemprego estar alto, então esse é um mecanismo que tem uma limitação muito grande”, finaliza.


Reflexão Econômica
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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