“É impossível abrir mão da Previdência Social”

José Maurício Conti comenta a proposta de desvincular os benefícios previdenciários do salário mínimo e diz que pessoas impossibilitadas de serem produtivas não podem ficar desamparadas

 20/05/2024 - Publicado há 7 meses
Carteira de Trabalho e Previdência Social – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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A recente proposta da ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, de desvincular os benefícios previdenciários do salário mínimo movimentou discussões. A alternativa, correções considerando a inflação e mais um porcentual não apresentado, implicaria acréscimos menores do que o modelo atual. A proposta foi fortemente criticada pelos movimentos trabalhistas. Já José Maurício Conti, professor de Direito Econômico, Financeiro e Tributário da Faculdade de Direito da USP, comenta o assunto também da perspectiva orçamentária nacional.

Sobre a situação em que o Brasil se encontra, ele não usa eufemismos. “Estamos com uma situação fiscal na Previdência que só tende a piorar muito e rápido”, diz. As razões para esse pessimismo são o “avanço demográfico na idade, a melhoria das condições de vida da população e uma redução na natalidade”.

José Maurício Conti – Foto: Reprodução/FD-USP

Na prática, a mudança no perfil da população, que tende a envelhecer cada vez mais, desbanca a antiga ideia de renovação. “Aquela perspectiva da geração atual financiar a geração futura está cada vez diminuindo mais”, afirma ele. Enquanto há cada vez mais aposentados para serem sustentados e por mais tempo, há menos jovens chegando à força produtiva.

O cenário pode ser representado em dados: em 2023, 42% das despesas primárias da União foram com a Previdência, totalizando R$ 899 bilhões; destes benefícios, mais de 60% correspondem a um salário mínimo. Tamanho seria o impacto da medida apresentada por Tebet, Conti faz a ressalva de que não só números podem ditar políticas públicas: “A Previdência Social é algo de justiça social, é impossível de abrir mão, porque as pessoas impossibilitadas de serem produtivas não podem ficar desamparadas”.

Solução

O professor afirma que a resposta está em algo que insiste há tempos: planejamento eficiente. “Só se fala em compatibilidade de arrecadação com despesa, mas em nenhum momento se avança na agenda da melhoria da gestão pública.” Isso é, com a mesma quantidade de orçamento, produzir muito mais resultado.

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Ele diz que essa ideia costuma ser deixada de lado por não trazer impactos imediatos. Essa medida, que seria uma “reforma em cima da reforma”, é mais um modo de perpetuar o problema: “Toda vez isso se repete e toda vez o problema persiste”. Já um planejamento eficiente com o gasto público é uma medida “mais lenta, mais específica e mais gradual, que produz os resultados a prazos mais longos”. Por essas razões, Conti afirma que há desinteresse por parte do poder político em se comprometer com isso. Já as contas públicas continuam a ser remendadas conforme a bola de neve avança.


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