Na coluna Poder e Contrapoder desta semana, o professor e cientista político André Singer analisa o caso do dossiê de antifascistas, supostamente produzido pelo Ministério da Justiça. “É um caso exemplar do que acontece no governo Bolsonaro”, afirma.
Esse dossiê teria sido produzido dentro do Ministério da Justiça, por um “setor de operações integradas”, contra 579 servidores públicos que teriam atuação antifascistas, dentre eles policiais e professores, como Paulo Sérgio Pinheiro, professor da USP, membro da Comissão Arns e reconhecido defensor dos direitos humanos. “Em um primeiro momento o governo tergiversou, porque evidentemente é ilegal que o Estado use seu poder para fichar, por assim dizer, servidores públicos”, aponta Singer.
Em entrevista a um programa de televisão no último domingo (2), o ministro não confirmou nem negou a existência do dossiê, o que indicava sua existência. No dia seguinte, ele afastou o responsável pelo “setor de operações integradas”, o que, segundo o colunista, constitui uma confirmação de que o dossiê existe e que, portanto, o governo estava efetivamente cometendo irregularidades.
Apesar disso, Singer não acredita que esse assunto está resolvido porque faz parte de questões sintomáticas na atuação do governo Bolsonaro, “um autoritarismo furtivo, uma maneira de corroer a democracia por dentro da própria democracia, usando brechas dentro das leis, do Estado, do governo”. Ele acredita que, neste caso específico, o governo foi obrigado a reconhecer, por ora indiretamente, a existência e a irregularidade do dossiê. “Mas, conhecendo os precedentes do governo Bolsonaro, eu não creio que esse tipo de operação pare”, finaliza.
Poder e Contrapoder
A coluna Poder e Contrapoder, com o professor André Singer, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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