Democracia ambiental precisa da participação popular, diz especialista

Para ambientalista, desmonte do Conama é o maior ataque que o Brasil já sofreu na área de gestão participativa, já que o governo federal tem poder para aprovar qualquer decisão que interesse ao setor produtivo

 18/11/2020 - Publicado há 3 anos
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“Nós não temos chances. Se o governo fechar um acordo com o setor produtivo, ele vai aprovar o que quiser”, alerta Bocuhy – Foto: Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso do Sul

O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com o ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), sobre o desmonte do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). 

Carlos Bocuhy, presidente do Proam – Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com Bocuhy, o Conama é um dos órgãos responsáveis por fiscalizar e abrir espaços para o debate sobre as leis e normas ambientais do País. Possuía 96 assentos, mas, depois da reforma realizada em maio deste ano, o órgão perdeu a maior parte dos 23 assentos dedicados aos segmentos da sociedade civil, como indígenas, sindicatos de trabalhadores, Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) e Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).

Assim, afirma, hoje o número de representantes da sociedade civil no Conama está reduzido a apenas quatro ambientalistas, escolhidos por meio de sorteios. Bocuhy conta que a manobra aumentou a participação do governo federal no órgão para 43% dos atuais 23 membros que compõem o conselho. Então, a administração do País, segundo o ambientalista, passou a ter 51% dos votos de decisão quando associada ao setor produtivo. “Ou seja, nós não temos chances. Se o governo fechar um acordo com o setor produtivo, ele vai aprovar o que quiser”, alerta. 

Para Bocuhy, esse é o maior ataque que o Brasil já sofreu na área de gestão participativa. Diz que o modelo vigente no País atualmente está longe daquele proposto pela Constituição Federal, pois essa garante a plena participação social com base na representatividade, na legitimidade, na paridade e na ausência de conflitos de interesse. “Nós não conseguimos instituir devidamente a democracia ambiental no Brasil. Ela tem que ser plena, tem que ser legal e tem que ser um elemento inerente às políticas públicas ambientais. Sem essa participação social, a gente não vai conseguir realizar isso”, enfatiza Bocuhy.

Ouça no player acima o programa Ambiente É o Meio na íntegra. 


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