Cultura caipira é a gênese da identidade paulista

História do homem caipira revela sua identidade na evolução musical e cultural do Estado de São Paulo

 10/02/2021 - Publicado há 3 anos
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O programa Ambiente É o Meio desta semana conversa com o especialista em Musicologia Ivan Vilela Pinto, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, ou o violeiro Ivan Vilela, como é profissionalmente conhecido. O assunto é a cultura caipira que, segundo o músico, “integra e fundamenta a cultura popular de São Paulo”. 

A história da cultura caipira nasceu do encontro entre os portugueses (bandeirantes) e os indígenas e está intimamente ligada ao bandeirismo paulista. “Esses bandeirantes eram meio índios, meio portugueses”, avalia o professor. Andavam descalços e teciam suas próprias roupas, imagem que está longe “daquela romantizada, de um homem de botas com roupas imensas”, afirma Vilela. 

O Violeiro, 1899 – Almeida Júnior/Pinacoteca do Estado, São Paulo

 

É nesse contexto que surge também a viola caipira, trazida para o Brasil pelo colonialismo português.  Em Portugal, a viola caipira era um instrumento das classes mais pobres da população e “dificilmente chegou à corte ou andou em casas senhoriais”, afirma. E no solo brasileiro não foi diferente. Inicialmente, seu uso foi associado aos negros escravizados e, mais tarde, tornou-se “um instrumento que tem ligação com essa crônica que, de certa forma, é a gênese da música popular”. 

Para o professor, essa é uma cultura que possui linguagem própria no dialeto, além de uma música “muito autêntica”, pois afirma não existir nenhum segmento da música popular brasileira com tantos ritmos distintos convivendo juntos. “Se, por um lado, a música caipira é muito simples sob o aspecto técnico, do ponto de vista rítmico é muito sofisticada.” 

Mas, durante a era da industrialização, a cultura caipira é depreciada junto com o caipira paulistano, visto como uma figura que estava em contradição com o ideário de modernização das cidades. Segundo Vilela, nesta época, o caipira “representa a oposição a isso tudo; mas, de forma muito ampla, acaba sendo uma âncora de representação identitária até da elite paulista” já que, “no fundo, São Paulo estava procurando uma identidade própria diante de todo o Brasil e viu no caipira uma maneira forte de representar isso”.

 


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