Crise hidrelétrica no País deve trazer de volta o horário de verão

Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico se reúne para definir plano antiapagão e sugere a volta do horário de verão, fato comentado por Pedro Luiz Côrtes

 20/09/2024 - Publicado há 2 meses
Imagem que mostra o desenho de um gigante empurrando os ponteiros de um relógio tendo ao fundo torres de transmissão de energia elétrica
O clima seco e a falta de chuvas são o principal fator que está contribuindo para a manutenção da crise hídrica  – Arte sobre foto de Marcos Santos/USP Imagens e ilustração Daylightsavings/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0
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Em abril de 2019, o horário de verão, que estava em vigor desde 1985, foi revogado. A medida foi tomada pelo então presidente na época, Jair Bolsonaro, que decidiu revogar o horário de verão alegando pouca efetividade na economia energética. Após cinco anos sem o projeto, o Brasil enfrenta a pior crise hídrica em 94 anos, o que trouxe à tona o debate sobre a volta, ou não, do horário de verão. Sobre esse assunto, o professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, discorre sobre a situação energética atual do Brasil: “Nós temos uma situação hídrica muito ruim, muito pior do que da crise anterior, que foi recente, 2020, 2021. O cenário não é positivo para este segundo semestre e, na verdade, o que o governo está procurando fazer é tomar medidas já preventivas, no sentido de salvaguardar o nível dos reservatórios, de tal forma que a gente possa usar essa reserva que a gente tem de maneira parcimoniosa, evitando um consumo exagerado da geração hidrelétrica e, com isso, partir para um uso muito intensivo das termelétricas”, afirma.

O professor também explica como funciona o horário de verão. “Nós temos dois picos básicos de consumo. Nós temos um pico no meio da tarde, que é principalmente durante os períodos de calor, e isso faz com que as pessoas usem mais intensamente ventiladores, ar-condicionado, coloquem geladeira no máximo. Então, isso aumenta muito o consumo no meio da tarde. Mas também nós temos uma superposição de consumo no final da tarde, início da noite, entre 5, 6 horas da tarde, até umas 8 horas da noite, onde acontece o seguinte, muitas empresas, muitos escritórios continuam trabalhando, mas também muitas pessoas já estão retornando para suas casas e, ao chegar em casa, ligam a luz, vão tomar banho, ligam a TV, e, com isso, aumenta esse consumo doméstico que se soma ao consumo dos escritórios, do setor de serviços e tal”, exemplifica.

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Reprodução/Câmara São Paulo

O uso excessivo de serviços que se utilizam da energia elétrica causa uma sobrecarga no sistema, o que implica tanto no uso de reservas importantes de água quanto no aumento da tarifa de luz, prejudicando o bolso do cidadão. Com a implementação, o consumo residencial acaba sendo adiado pelo fato de o dia durar “mais”, consequentemente, há uma economia de eletricidade.

Influência climática

O clima seco e a falta de chuvas são o principal fator que está contribuindo para a manutenção da crise hídrica. O fenômeno La Niña, que estava previsto para acontecer no final de agosto ou início de setembro, não aconteceu. O início do fenômeno foi adiado para o final de outubro e, com ele, espera-se a redução de chuvas no Sul e aumento de chuvas no Norte.

“Nós vamos ter uma retomada de chuvas na região Norte, isso está, inclusive, prognosticado mais para o final do ano, não vai ser em toda a Amazônia, vai ser mais para o Norte, mais para o Oeste, mas isso vai ajudar a irrigar um pouco o Centro-Oeste, o Pantanal, mas a região Central ainda pode ficar muito prejudicada em termos de reabastecimento dos seus reservatórios, e a gente não sabe de antemão qual vai ser a duração desse La Niña. O último que teve, praticamente durou dois anos, foi uma duração realmente prolongada, teve um pequeno intervalo no meio de neutralidade, mas praticamente não fez muita diferença, e a gente não sabe se esse La niña, que vai chegar em algum momento, vai durar seis meses, um ano, dois anos, como foi o último”, adiciona.

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O professor conclui falando sobre o uso elevado de energia elétrica. “O nosso consumo este ano está muito elevado. Nós não temos a perspectiva de apagão, nós temos uma estrutura capaz de atender a essa demanda, mas o nosso consumo está muito alto e o mínimo de consumo que a gente teve este ano, que foi em agosto, foi maior do que os picos de consumo dos anos anteriores. E realmente essa é uma situação que preocupa, porque normalmente o nosso consumo diminui no inverno e nós praticamente não tivemos inverno. Nós tivemos um período quente e agora a primavera tradicionalmente é um período seco para a região Sudeste, é um período de temperaturas mais elevadas. Então, aquilo que aconteceu no outono, no inverno, pode se reproduzir agora na primavera, inclusive com maior intensidade e maior frequência, essas ondas de calor”, finaliza.

 


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