“Cresce a luta por direitos humanos na China e no Irã”

Para o colunista Pedro Dallari, por toda parte e em todas as sociedades, os direitos humanos se tornaram uma referência universal

 30/11/2022 - Publicado há 1 ano
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“Os últimos tempos têm sido marcados pelo questionamento sobre a vitalidade dos direitos humanos, cuja afirmação progressiva vinha sendo uma característica importante deste novo milênio.” É dessa forma que o professor Pedro Dallari começa a sua coluna desta semana. Para ele, nos países democráticos, a emergência de forças políticas de viés extremista, inclusive na Europa e mesmo no Brasil, vem ameaçando conquistas já consagradas nas Constituições e nas leis. “E nos países de governos autoritários, a repressão aos direitos humanos se acentuou fortemente, como é o caso da Rússia. Esse quadro suscitou em muitos analistas as seguintes perguntas: será que uma perspectiva de organização da sociedade baseada nos direitos humanos estaria em xeque? Será que estaria havendo uma tendência de retrocesso na possibilidade de exercício de uma cidadania plena por parte das pessoas?”, questiona o colunista. “Episódios recentes, que vêm ocorrendo no Irã e na China, dois países em que o controle político da vida social é praticamente absoluto, vêm demonstrando, no entanto, que a busca pelo respeito aos direitos humanos continua viva e que as pessoas se dispõem a correr riscos nessa luta”, acredita Dallari.

Para o colunista, as manifestações contra o regime autoritário iraniano têm respaldo na defesa dos direitos das mulheres. O estopim, relembra o professor,  foi a morte da jovem Mahsa Amini, de apenas 22 anos, que havia sido presa pela polícia na cidade de Teerã em 13 de setembro, acusada de violar as regras rígidas daquele país, que exigem que as mulheres cubram os cabelos com um véu. “Embora as autoridades aleguem que a jovem morreu em decorrência de um ataque cardíaco, enquanto se encontrava presa, há relatos que indicam que ela foi assassinada, por conta das agressões cometidas por policiais, que bateram na cabeça dela com o uso de cassetetes. As manifestações públicas de protesto diante desse crime se propagaram por todo o país. Esse sentimento generalizado de contestação gerou um fato inusitado: na semana passada, no jogo de estreia da seleção de futebol do Irã na Copa do Mundo do Catar, os jogadores da equipe deixaram de cantar o hino nacional, em apoio aos manifestantes, que incluíram milhares de torcedores iranianos presentes no estádio”, acrescenta o colunista, lembrando que na China a situação não é diferente.

“Na China, o motivo das manifestações contra o governo é a péssima condução das ações oficiais de combate à propagação da covid. Incapazes de implementar uma estratégia de vacinação generalizada na população, em condições de evitar a disseminação da doença, as autoridades chinesas têm optado pela adoção de uma política radical de isolamento social – o lockdown. Isso não só vem afetando a normalidade da vida social e econômica, como tem ocasionado tragédias, por conta do bloqueio do acesso a áreas nas cidades; na localidade de Xinjiang, as dificuldades impostas por essas restrições de acesso levaram à morte de dez pessoas em um incêndio”, afirma o colunista, ressaltando que, em grandes cidades, como Pequim e Xangai, mas também em diversas localidades do país, as manifestações de protesto vêm ocorrendo desde o último dia 25 deste mês de novembro. “Esses episódios servem para comprovar que, por toda parte e em todas as sociedades, os direitos humanos se tornaram uma referência universal, e que as pessoas estão cada vez mais dispostas a torná-los uma realidade”, finaliza Dallari.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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