A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2024, mais conhecida como COP 29, aconteceu de 11 a 22 de novembro. As negociações pareciam promissoras, e logo nos primeiros dias novas metas de emissão foram definidas e atualizações foram feitas no mecanismo de créditos de carbono, que busca encorajar a retirada de gases do efeito estufa (GEE) da atmosfera.
Contudo, as negociações entre os países avançaram pouco e especialistas concordam que, no que toca ao financiamento climático, os avanços foram insuficientes. Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, explica melhor a decepção geral com a conferência.
Apenas figurativo
Enquanto os países desenvolvidos possuem condições econômicas e sociais para promover uma transição energética e diminuir as emissões de GEE em seu território, países em desenvolvimento muitas vezes não possuem condições para isso. O financiamento climático então surge para que países desenvolvidos possam ajudar economicamente os em desenvolvimento a cumprir as metas.
Côrtes explica que a COP 29 era conhecida como “COP do financiamento”, mas o acordo ficou muito aquém das expectativas: “Esse foi um acordo considerado simplesmente figurativo, só para se dizer ao final que algum acordo foi firmado, mas não há nada a celebrar”. “O volume pretendido e o volume acordado são muito diferentes, eram solicitados US$ 1,3 trilhão ao ano por um período de cinco anos, e o acordo fechado diz que serão cedidos US$ 300 bilhões ao ano. Ou seja, menos de 25% do que era pretendido”, explica o professor.
Outra falha considerada no acordo foi sobre a especificação de qual maneira esse financiamento deve ocorrer e qual é a origem dessa verba. Especialistas se preocupam que, com critérios pouco específicos, empresas e financiadores privados possam receber a certificação do financiamento com projetos que não tenham foco total na preservação do meio ambiente e na redução das emissões de GEE.
No colo do Brasil
A COP 30 será realizada no Brasil ano que vem e, com os resultados insatisfatórios da COP 29, especialistas concordam que a responsabilidade de retomar os avanços na preservação ambiental e climática será nossa. Apesar da responsabilidade, Pedro Luiz Côrtes possui confiança nos possíveis resultados que o Brasil possa conseguir: “Nós temos figuras emblemáticas no meio ambiental, por exemplo, a ministra Marina Silva, que é um ícone. Nós temos também algo muito importante a mostrar, que é a transição energética no Brasil. Temos um programa muito exitoso de biocombustíveis e que vem sendo incrementado pelo governo atual e a geração de energia elétrica apresenta um crescimento intenso de fontes renováveis como eólica e solar ao longo dos últimos anos”.
A maior parte da energia brasileira vem de hidrelétricas, que embora tenham um impacto ambiental significativo no período de construção e início das operações utiliza uma fonte renovável para a geração elétrica e apresenta baixos impactos ambientais a longo prazo. O professor explica que, diferentemente do Azerbaijão, a tradição diplomática do Brasil é bastante consolidada: “Um acordo desse tipo não é construído durante a COP, ele é construído nos 12 meses anteriores. A chancelaria do país sede vai trabalhar nesse acordo, conversando com os diversos participantes, costurando e tentando superar as divergências, e na COP é o momento de assinar o documento, eventualmente fazer algum ajuste na redação final. O trabalho começou agora e eu tenho convicção de que o Brasil vai dar conta, porque nós temos uma equipe muito bem estruturada em termos de relações internacionais e referência em preservação ambiental”, finaliza Côrtes.
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