O conflito Israel-Palestina, que se estende há mais de meio século, vivenciou uma nova onda de violência nas últimas semanas na região de Jenin. De acordo com especialistas da USP, os recentes confrontos representam os mais violentos dos últimos 20 anos, desde o episódio de 2002 — conhecido como a Batalha de Jenin. Na operação militar recente, um soldado israelense e 12 palestinos morreram. O número de feridos palestinos foi de 100, com 20 deles em estado grave.
A região atacada pelas Forças Armadas de Israel abriga o campo de refugiados de Jenin, que conta com mais de 15 mil residentes, muitos dos quais foram expulsos, em 1948, após a criação do Estado de Israel. “O secretário-geral da ONU qualificou como excessiva a violência israelense, o que é uma declaração um pouco benevolente, porque se trata de uma violência injustificada”, avalia Arlene Elizabeth Clemesha, professora de História Árabe da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
Discursos
Kai Enno Lehmann, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, explica que o que se observa na Cisjordânia é uma consequência lógica do governo israelense de Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro do país. Tal posicionamento mais nacionalista e de direita de Israel, na opinião de Lehmann, explica essa nova escala de violência, uma vez que existe um certo interesse político em manter a base de apoio incentivada, a partir de ataques como esse.
Para além das intenções políticas, Arlene ressalta que esse posicionamento de anexar territórios palestinos sem incorporar sua população – uma vez que isso mudaria a balança demográfica de Israel – sempre existiu. “Nesse governo de extrema-direita, essa política se tornou mais enfática e perdeu qualquer tipo de aura ou aparência comedida de tentativa de se ter algum diálogo com a Palestina”, analisa a professora.
O objetivo do ataque, segundo declaração feita pelo Estado de Israel, era “destruir a infraestrutura terrorista e desarmar as milícias”, tal como foi feito em 2002, quando de fato ocorreu uma rebelião palestina, conhecida como Segunda Intifada, com a presença do grupo islamista Hamas. Todavia, Arlene esclarece que, atualmente, diferentemente de 20 anos atrás, não há uma intifada, ou seja, uma ação de rebelião ou organização palestina contra Israel em curso.
Por um lado, Lehmann menciona que Israel, como um Estado territorialmente reconhecido, está em seu direito de exigir as áreas ocupadas por palestinos. Assim, territórios como o campo de refugiados de Jenin, que existe há mais de 70 anos, tornam-se propícios para conflitos. Por outro lado, conforme Arlene atenta, o direito à resistência é garantido pela lei internacional, a partir da atuação em defesa de espaços por eles ocupados, tendo em vista a negativa diante da liberdade nacional da Palestina.
Perspectivas
Acerca de possíveis desdobramentos do conflito, o especialista comenta que não prevê qualquer guerra no sentido tradicional, já que a Palestina não apresenta qualquer sustentação econômica ou política forte para ganhar um embate como esse. “Uma das coisas interessantes nos últimos anos foi o fato de vários países vizinhos terem feito um acordo de paz com Israel, ou seja, o apoio político para a causa Palestina me parece mais enfraquecido”, nota Lehmann.
Com uma liderança israelense que declara abertamente o interesse em anexar a Cisjordânia, a professora comenta que qualquer abertura de diálogo entre os países se torna impossível. “Com esse governo não há perspectiva de qualquer melhora e só vai crescer a resistência Palestina. Esses jovens nos campos refugiados estão se armando cada vez mais, repito, não é para invadir Israel, é para defender o seu território das incursões militares”, discorre. Além disso, também a possibilidade da ocorrência de atentados em Israel não é excluída, uma vez que, segundo Arlene, é vista como uma forma de resposta ao ataques.
Apesar de apresentar um apoio internacional, a professora explica que o fato de Israel deixar clara sua posição mais extrema fez com que alguns países começassem a implementar algumas medidas em forma protesto. Por exemplo, os Estados Unidos reinauguraram uma medida que proíbe qualquer tipo de acordo com universidades que tenham participação na ocupação.
*Sob a orientação de Marcia Avanza
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.