Conflito na Cisjordânia é o mais violento dos últimos anos

Especialistas não preveem qualquer guerra no sentido tradicional, já que a Palestina não apresenta sustentação econômica ou política forte para ganhar um embate

 21/07/2023 - Publicado há 1 ano
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Conflito entre Israel e Palestina se arrasta há décadas – Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Wikimedia Commons
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O conflito Israel-Palestina, que se estende há mais de meio século, vivenciou uma nova onda de violência nas últimas semanas na região de Jenin. De acordo com especialistas da USP, os recentes confrontos representam os mais violentos dos últimos 20 anos, desde o episódio de 2002 — conhecido como a Batalha de Jenin. Na operação militar recente, um soldado israelense e 12 palestinos morreram. O número de feridos palestinos foi de 100, com 20 deles em estado grave. 

A região atacada pelas Forças Armadas de Israel abriga o campo de refugiados de Jenin, que conta com mais de 15 mil residentes, muitos dos quais foram expulsos, em 1948, após a criação do Estado de Israel. “O secretário-geral da ONU qualificou como excessiva a violência israelense, o que é uma declaração um pouco benevolente, porque se trata de uma violência injustificada”, avalia Arlene Elizabeth Clemesha, professora de História Árabe da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. 

Arlene Clemesha – Foto: IEA-USP

Discursos

Kai Enno Lehmann, professor do  Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, explica que o que se observa na Cisjordânia é uma consequência lógica do governo israelense de Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro do país. Tal posicionamento mais nacionalista e de direita de Israel, na opinião de Lehmann, explica essa nova escala de violência, uma vez que existe um certo interesse político em manter a base de apoio incentivada, a partir de ataques como esse. 

Para além das intenções políticas, Arlene ressalta que esse posicionamento de anexar territórios palestinos sem incorporar sua população – uma vez que isso mudaria a balança demográfica de Israel – sempre existiu. “Nesse governo de extrema-direita, essa política se tornou mais enfática e perdeu qualquer tipo de aura ou aparência comedida de tentativa de se ter algum diálogo com a Palestina”, analisa a professora. 

O objetivo do ataque, segundo declaração feita pelo Estado de Israel, era “destruir a infraestrutura terrorista e desarmar as milícias”, tal como foi feito em 2002, quando de fato ocorreu uma rebelião palestina, conhecida como Segunda Intifada, com a presença do grupo islamista Hamas. Todavia, Arlene esclarece que, atualmente, diferentemente de 20 anos atrás, não há uma intifada, ou seja, uma ação de rebelião ou organização palestina contra Israel em curso. 

Por um lado, Lehmann menciona que Israel, como um Estado territorialmente reconhecido, está em seu direito de exigir as áreas ocupadas por palestinos. Assim, territórios como o campo de refugiados de Jenin, que existe há mais de 70 anos, tornam-se propícios para conflitos. Por outro lado, conforme Arlene atenta, o direito à resistência é garantido pela lei internacional, a partir da atuação em defesa de espaços por eles ocupados, tendo em vista a negativa diante da liberdade nacional da Palestina. 

Kai Enno Lehmann – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Perspectivas 

Acerca de possíveis desdobramentos do conflito, o especialista  comenta que não prevê qualquer guerra no sentido tradicional, já que a Palestina não apresenta qualquer sustentação econômica ou política forte para ganhar um embate como esse. “Uma das coisas interessantes nos últimos anos foi o fato de vários países vizinhos terem feito um acordo de paz com Israel, ou seja, o apoio político para a causa Palestina me parece mais enfraquecido”, nota Lehmann.

Com uma liderança israelense que declara abertamente o interesse em anexar a Cisjordânia, a professora comenta que qualquer abertura de diálogo entre os países se torna impossível. “Com esse governo não há perspectiva de qualquer melhora e só vai crescer a resistência Palestina. Esses jovens nos campos refugiados estão se armando cada vez mais, repito, não é para invadir Israel, é para defender o seu território das incursões militares”, discorre. Além disso, também a possibilidade da ocorrência de atentados em Israel não é excluída, uma vez que, segundo Arlene, é vista como uma forma de resposta ao ataques. 

Apesar de apresentar um apoio internacional, a professora explica que o fato de Israel deixar clara sua posição mais extrema fez com que alguns países começassem a implementar algumas medidas em forma protesto. Por exemplo, os Estados Unidos reinauguraram uma medida que proíbe qualquer tipo de acordo com universidades que tenham participação na ocupação.

*Sob a orientação de Marcia Avanza


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