Comunicação entre insetos depende do contexto ambiental e social das diferentes espécies

Especialistas explicam que os insetos podem se comunicar uns com os outros por meio de sinais químicos, visuais, acústicos, vibracionais, táteis ou até pela emissão de sinais luminosos

 27/09/2024 - Publicado há 5 meses
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Imagem de uma colmeia de abelhas que parecem estar se alimentando
As abelhas sem ferrão produzem vibrações para transmitir informação sobre a qualidade da fonte de alimento – Foto: Jonathan Wilkins/Wikimedia Commons/CC BY-SA 3.0
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A comunicação é uma das bases fundamentais para a interação entre seres vivos presente não só entre os seres humanos, mas em diversas formas e manifestações na natureza. Alguns filmes, como A Chegada, refletem sobre a dificuldade e a necessidade de criar pontes entre diferentes seres, e no reino animal isso ocorre principalmente para possibilitar a troca de informações essenciais para a sobrevivência, como o alerta sobre predadores, a busca por alimento ou a reprodução.

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Ronara Ferreira, professora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo, afirma que, de maneira geral, a comunicação animal é um fenômeno muito diversificado e as suas funções e efeitos dependem do contexto ambiental e social em que as espécies são inseridas. Sobre os insetos, ela cita diversas formas diferentes de comunicação, através de sinais químicos, visuais, acústicos, vibracionais, táteis ou até pela emissão de sinais luminosos. “A comunicação química é um dos meios preponderantes de comunicação para muitas espécies, por feromônios, que são compostos químicos liberados no ambiente e detectados por outros membros da mesma espécie. Eles podem estar presentes em contextos como acasalamento, na atração de parceiros sexuais, para marcação de trilhas, para sinalização de um perigo e estresse, ou mesmo para sinalizar a presença de um alimento”, exemplifica.

Além da liberação de sinais voláteis, a presença de sinais químicos na cutícula de insetos sociais, como formigas, cupins e abelhas, transmite informações de diferentes níveis, o que ajuda a regular as interações dentro desses grupos sociais. A especialista também explica que a comunicação química, entre outras, não é exclusiva, já que muitas espécies de insetos apresentam diversos meios e os utilizam, às vezes, em associação — cada meio de comunicação ajuda a modular o outro, com cada um gerando uma resposta melhor em um determinado contexto.

Outros meios de comunicação

Michael Hrncir – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A comunicação mecânica ou acústica-vibracional, com componentes audíveis, é feita através da produção de sinais vibracionais, transmitidos não como ondas de ar, mas pelo substrato. Michael Hrncir, professor do Instituto de Biociências (IB) da USP, cita o caso da “dança das abelhas”, em que a espécie Apis mellifera indica para os membros da colônia a posição de uma fonte de alimento. “O problema é que dentro do ninho está completamente escuro, ou seja, as outras abelhas não conseguem visualizar essa dança, então elas precisam de estímulos mecânicos, vibrações, principalmente, e toque, para detectar onde essa abelha está dançando. As abelhas têm dentro do tórax grandes músculos, que são responsáveis principalmente pelo batimento das asas, e esses músculos, além disso, conseguem produzir vibrações fortes”, explica.

Outras espécies de insetos sociais também produzem essa forma de comunicação — mas sem a dança, única do grupo das Apinae, que abrange uma menor quantidade de abelhas —, como as abelhas sem ferrão, que produzem vibrações da mesma forma, mas para transmitir informação sobre a qualidade da fonte de alimento. Ele também comenta sobre as formigas, que produzem uma estridulação — ruído gerado pela esfregação de partes do corpo — ao torcer a parte do abdômen contra a parte do tórax.

Ronara Ferreira – Foto: Insetos Sociais em Rede

Ronara ainda cita a comunicação visual, que percebe estímulos e posições específicas, variando entre diferentes espécies ou entre a mesma espécie, mas em diferentes contextos, além da comunicação tátil, utilizada em contextos de proximidade de um indivíduo com o outro por meio de toques físicos, da utilização das antenas ou de outras partes do corpo para transmitir informações sobre o ambiente ou para coordenar atividades dentro do grupo social ou entre parceiros. Nesse sentido, Hrncir comenta a respeito do tandem running, uma corrida em pares entre formigas, em que um indivíduo acha um determinado recurso e outra formiga se junta, correndo bem apertado e tocando a primeira enquanto ela corre, sempre permanecendo em contato.

“Cada tipo de comunicação tem uma função diferente. A parte mais importante é que eles conseguem produzir o máximo possível de cria (reprodução) com recursos de forma mais ou menos constante”, afirma. Um exemplo específico entre os diferentes contextos existentes é a comunicação entre a abelha rainha e as operárias, em que, na falta de feromônios produzidos pela rainha após sua morte, as operárias detectam essa ausência e começam os procedimentos para a produção de uma nova rainha.

Estudos sobre comunicações de insetos

No geral, o especialista explica que os estudos dessas comunicações podem ser importantes inclusive para a sociedade humana. “Observando as abelhas dentro da colônia, e isso se refere mais para a Apis mellifera, da qual temos mais estudos sobre o assunto, nós, seres humanos, podemos identificar onde fica a fonte de alimento, onde essa abelha está coletando o seu alimento, podemos observar, filmar e analisar isso. Então, às vezes, isso tem relevância ecológica”, comenta.

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Além disso, a análise desses estudos também pode ser utilizada em plantações e cultivos, já que, em vários casos, a Apis mellifera está sendo utilizada para a polinização de cultivos. No caso das abelhas-sem-ferrão, o docente entende que a vantagem ecológica está mais associada à intensidade com a qual elas produzem as vibrações, em que, através delas, a sociedade humana pode detectar que, no ambiente onde elas estão situadas, existem fontes valiosas para a colônia.

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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