Comissão internacional busca desenvolver soluções para o problema da violência armada no Brasil

Lorena Barberia comenta a criação, anunciada pela revista “The Lancet”, de uma comissão internacional destinada a abordar a crise global de saúde relacionada à violência armada

 09/09/2024 - Publicado há 3 meses     Atualizado: 16/10/2024 às 10:33

Texto: Redação
Arte: Diego Facundini*

A comissão não se limitará a analisar os homicídios causados por armas de fogo - Fotomontagem Jornal da USP com imagens: senivpetro/Freepik; Freepik

Leia este conteúdo em InglêsA revista científica The Lancet anunciou recentemente a formação de uma comissão internacional destinada a abordar a crise global de saúde relacionada à violência armada. Esse novo grupo de trabalho visa a explorar como as armas de fogo são um fator de risco significativo para a saúde e o bem-estar em todo o mundo. A comissão reúne especialistas de várias disciplinas para desenvolver soluções e políticas eficazes para enfrentar esse problema.

A professora Lorena Barberia, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo, copreside a comissão. Ela explica que a iniciativa tem como objetivo “sistematizar evidências com rigor e produzir publicações acadêmicas e, normalmente, fazer recomendações de mudanças nas políticas públicas”. Ela ressalta que a criação da comissão já estava sendo discutida antes da pandemia, o que sublinha a importância contínua do tema: “Este problema da violência armada e o impacto das armas na saúde é uma questão que há anos discutimos dentro da área da saúde”.

Relevância do tema

Lorena enfatiza que a comissão não se limitará a analisar os homicídios causados por armas de fogo. “Nós estamos procurando levantar a problemática; nós temos que pensar a forma que a saúde pensa nas ameaças. Pensamos em vigilância, em como evitar esses óbitos, evitar que pessoas sejam atingidas por armas de fogo”, afirma. Isso inclui a prevenção de mortes e a consideração dos custos sociais associados ao tratamento de sobreviventes de ataques armados. “Precisamos pensar na prevenção, no custo do tratamento das vítimas e no impacto das mortes sobre as famílias”, explica a professora.

A situação no Brasil é particularmente preocupante. O País, juntamente com Colômbia, Índia, México, Estados Unidos e Venezuela, está entre os seis responsáveis por dois terços das mortes globais causadas por armas. Lorena destaca que, mesmo com a redução das taxas de homicídio, o Brasil ainda enfrenta mais de 40 mil óbitos anuais devido a armas de fogo. Isso equivale a mais de 100 mortes diárias, o que demonstra a gravidade da situação. Além disso, a violência armada atinge desproporcionalmente uma população da sociedade: são homens (90,2%), pessoas negras (78%) e jovens de até 29 anos (49,4%).

Lorena também comenta sobre o aumento do armamento no Brasil durante o governo Bolsonaro e as recentes reversões dessas políticas. “Houve um aumento no armamento na sociedade e precisamos estudar e entender que as armas, estando presentes em casa, circulando mais livremente na sociedade, as munições representam um perigo iminente”, disse. Ela ressalta que é essencial entender as consequências desse aumento e estudar o impacto das armas tanto na violência doméstica quanto na segurança pública. “Ter uma arma em casa está correlacionado com um aumento na violência contra a mulher. Muitas vezes as armas que foram adquiridas vão ser utilizadas em casa”, afirma.

O estudo

A comissão, formada por um grupo multidisciplinar de especialistas, se dedicará ao longo dos próximos 24 meses a produzir novos estudos e a recomendar mudanças nas políticas públicas. “Nós esperamos fazer um trabalho rigoroso e acadêmico, mas também promover um diálogo sobre as evidências que temos e o que ainda precisamos entender”, conclui Lorena. A professora enfatiza que a comissão não só buscará responder questões sobre a violência armada, mas também facilitará um debate mais amplo sobre o impacto das armas na saúde pública e na sociedade como um todo.

Esse esforço reflete a crescente preocupação global com a violência armada como um problema de saúde pública e a necessidade de uma abordagem integrada e bem-informada para enfrentar esse desafio crítico.

*Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado


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