Na coluna desta semana, Guilherme Wisnik comenta a cerimônia de abertura da Olimpíada em Paris sob um ângulo urbanístico da percepção da cidade. “É claro que se trata de um evento esportivo e esses grandes eventos esportivos mundiais cada vez mais têm se tornado eventos midiáticos e imobiliários”, diz o professor, se referindo à Olimpíada e à Copa do Mundo de futebol, que exigem a construção de grandes equipamentos, de arenas e de infraestrutura que, supostamente, deixariam um legado. “Mas eu queria pensar, e isso foi um tema fundamental dessa abertura de Paris, o evento como uma celebração urbana, isto, uma celebração da cidade e da vida urbana, o que é o grande ponto de distinção dessa festa”, diz Wisnik, comparando com eventos anteriores que sempre ocorreram dentro de estádios.
O colunista afirma que o Rio Sena foi o grande protagonista. “Claro que a gente vê muitos questionamentos tanto sobre a questão de quem estava ali ao vivo assistindo e o evento era muito disperso. Mas ele funcionou muito mais na televisão com toda a edição, do que para quem estava ali. Porque é como assistir à corrida de Fórmula 1, você vê o carro passar e depois não vê mais. Lá também, como era ao longo do rio, a percepção era fragmentada, mas esse é um custo que vale a pena, diante do significado que tem um evento como esse.”
Wisnik contesta o fato de que, embora tenha tantas guerras no mundo, tanta injustiça social, seria um cinismo pensar numa celebração mundial dessa forma. “Mas a gente tem que considerar que, apesar disso, esse evento é uma espécie de teatro do mundo no qual se escolhe fazer um discurso ou outro. Então, claramente, o discurso escolhido pela organização foi de combater o discurso da extrema-direita, trazendo uma série de personagens ligados à diversidade mundial, diversidade cultural e diversidade étnica. Fazer o elogio dessa diversidade e fazer brilhar o espaço da cidade por oposição ao espaço encerrado em um estádio.”
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
.