Colunista analisa retratos da leitura no Brasil

Pesquisa recente mostra que, pela primeira vez, o País tem mais não-leitores do que leitores – 53% das pessoas não leram livro nenhum

 Publicado: 20/12/2024 às 7:16
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A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil foi divulgada no dia 19 de novembro e, pela reação da imprensa, dos profissionais do setor livreiro, de pesquisadores de áreas afins e da população de modo geral pode-se dizer que a edição de 2024 fez história. E é sobre essa pesquisa que a professora Marisa Midori falou em sua última coluna do ano. “Ela ainda vai dar muito o que falar nos próximos anos. Pelo menos, eu espero que seja assim”, afirma a colunista, impressionada com dados como a redução de 6,7 milhões de leitores no País. “Pela primeira vez na série histórica de Retratos da Leitura, a proporção de não-leitores é maior do que a de leitores: 53% das pessoas não leram nem parte de um livro – impresso ou digital – de qualquer gênero”, relata Marisa Midori. “O quadro é alarmante. E nunca será demasiado bater nesta tecla. Eu olhei com cuidado o material que é disponibilizado para o público e alguns pontos me chamaram a atenção, entre eles a relação entre leitores e não leitores. De acordo com os critérios adotados pela pesquisa sempre foi muito equilibrada, quando olhamos a série histórica desde 2007 até 2024. De 2019 para 2024, porém, a linha que representa os leitores começa a descer, até chegarmos nesta triste inversão como você apontou”, esclarece a professora.

Marisa Midori vai além em sua análise, apontando para um problema até agora sem solução no País. “O retrato da leitura no Brasil é o retrato das desigualdades. O que eu quero dizer com isso? Que a pesquisa reitera algo que todos sabemos: leitura tem a ver com escolaridade. Os dois fatores são mais relevantes quanto maior a renda dos entrevistados”, avalia a colunista. “Talvez, esse retrato esteja sugerindo que desde a crise de 2016 houve um afrouxamento das políticas públicas em prol do livro e da leitura. E que esse quadro tenha se acentuado a partir de 2019. Ou seja, o retrato representa justamente um efeito catastrófico do redirecionamento da agenda implementada pelo Ministério da Educação, do fim do Ministério da Cultura, do desaceleramento dos investimentos em bibliotecas, do negacionismo e, por que não, da crise que vivenciamos durante o período pandêmico”, afirma ela. “Antonio Candido escreveu que o brasileiro havia se tornado um espectador de televisão, antes de ser um leitor. De modo análogo, podemos dizer que o brasileiro se torna agora um internauta antes de se tornar um leitor”, concluiu Marisa Midori.


Bibliomania
A coluna Bibliomania, com a professora Marisa Midori, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 9h00, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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