Cientistas chineses e americanos criam embrião com células de macacos e humanos

Experimento envolveu uma equipe externa de bioética que orientou todos os passos dos cientistas

 22/04/2021 - Publicado há 3 anos
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Hoje, em Decodificando o DNA, a professora Mayana Zatz fala sobre a criação de um embrião híbrido, feito em laboratório, por pesquisadores chineses e americanos. É a primeira vez que uma célula embrionária é produzida com células de macacos e humanos. O estudo foi realizado na Universidade Kunming de Ciência e Tecnologia de Yunnan, na China, onde os cientistas cultivaram esses embriões por até 20 dias.

Seis dias depois de criados, cada embrião da espécie Macaca fascicularis recebeu a injeção de 25 células-tronco humanas, conhecidas como pluripotentes estendidas (com potencial de contribuir para a formação de tecidos embrionários e extraembrionários, como cordão umbilical e placenta). Após dez dias, 103 deles ainda estavam em desenvolvimento, quando a taxa de sobrevivência começou a declinar. Já no 19º dia, apenas três deles ainda estavam vivos. Mas o mais importante é que a porcentagem de células humanas nos embriões permaneceu alta ao longo do tempo em que continuaram a crescer.

A diretora do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP diz que, por questões éticas, não é permitido trabalhar com embriões humanos. Por isso, a pesquisa liderada por Juan Carlos Izpisua Belmonte, professor do Laboratório de Expressão Gênica do Instituto Salk de Ciências Biológicas, na Califórnia, Estados Unidos, vai permitir investigar o desenvolvimento de embriões no laboratório por muito mais tempo. “Seria possível gerar células-tronco pluripotentes de pessoas com diferentes doenças genéticas, gerar embriões quiméricos e investigar melhor o efeito de diferentes mutações nos embriões”, explica a geneticista. “Além disso, seria possível testar o efeito de diferentes drogas nesses embriões.”

Outra potencial aplicação seria a geração de órgãos para transplante, segundo Mayana. “Nosso grupo já conseguiu formar um minifígado humano a partir de um arcabouço de um fígado de rato, de onde foram retiradas todas as células. Talvez essa tecnologia de quimera permita, no futuro, reconstruir órgãos com muito maior rapidez.”

A pesquisa exigiu acompanhamento externo de equipe de bioética em cada etapa. A geneticista diz que é normal haver pessoas contrárias a esse tipo de técnica, mas também afirma que, a partir desses resultados, a ciência poderá ver avanços rápidos.

O artigo Chimeric contribution of human extended pluripotent stem cells to monkey embryos ex vivo foi publicado em 15 de abril na revista científica Cell.


Decodificando o DNA
A coluna Decodificando o DNA, com a professora Mayana Zatz, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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