A área da visão é muito promissora na perspectiva científica para células-tronco, mas ainda não tem tratamento estabelecido com célula-tronco para curar a cegueira. Atualmente, segundo Eduardo Rocha, as células-tronco, também chamadas células pluripotenciais, estão abrindo perspectivas para a revitalização de tecidos ou órgãos cuja capacidade de regeneração espontânea não ocorre, como quando a lesão produzida foi muito grave – por exemplo, em queimaduras muito extensas, tratamento por radioterapia e algumas doenças de causas desconhecidas. Há três décadas a ciência busca estratégias cirúrgicas para recuperar diferentes órgãos, inclusive para tecidos oculares, e os bons resultados de longo prazo são em lesões pequenas, apoiadas por boas terapias adjuvantes, geralmente sofisticadas, e quando o indivíduo pode ser o doador das células para si mesmo. Isso ajuda a evitar rejeição do transplante e a perda de efeito no médio e no longo prazo. “Nas doenças oculares, os transplantes de células-tronco foram bem nesses itens quando as córneas dos pacientes receberam células saudáveis – ou de uma outra área do próprio indivíduo ou do olho contralateral – e, também, quando a doença passou a ser controlada, passou a poupar esse paciente de futuras crises, remissões, sejam elas espontâneas ou porque a terapia de apoio foi muito bem-sucedida. Nem sempre essa combinação é possível na prática”, constata o especialista. Por isso, não há ainda tratamentos aprovados e bem estabelecidos para doenças oculares com células-tronco transplantadas.
Em estudo feito no Japão, uma nova possibilidade foi testada. “As células transplantadas foram células epiteliais de córnea halógenas, ou seja, de outros indivíduos, obtidas e submetidas a uma transformação para células pluripotenciais, com características de epitélio. Elas foram implantadas em quatro pessoas com doenças diferentes, mas que estavam limitando muito a visão desses indivíduos. Uma série de exigências éticas foi atendida para propor o tratamento, inclusive eliminação de fatores que pudessem confundir os resultados.” O estudo durou em média cerca de 12 meses para cada paciente e quase todos os desfechos, relacionados a conforto e melhora da visão, foram benéficos. Ainda assim, Rocha alerta para o fato de que quatro casos selecionados ainda formam uma base pequena para abrir perspectiva de que a estratégia seja largamente segura e útil para milhares de pessoas cegas por opacidade de córnea e falência limbar, mas é vista com otimismo pela comunidade científica. “A utilidade a longo prazo, estudos comparativos e terapias adjuvantes melhores vão ser úteis, mas é um grande avanço conceitual, com perspectivas futuras, após serem comprovados e aprovados por órgãos de saúde dos governos. Vamos continuar pesquisando e aguardando.”
Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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