Brasil deve se basear no interesse nacional ao escolher entre EUA e China

Para Rubens Barbosa, negociação de tecnologias 5G pode ser um ponto de virada na relação com o país asiático

 01/12/2020 - Publicado há 3 anos

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Em quase dois anos de gestão, o governo Bolsonaro acumula dissidências com a China, um dos maiores parceiros comerciais do Brasil (comprador de cerca de 34% do total das exportações brasileiras). Na batalha entre as duas grandes potências, a China e os EUA, por razões ideológicas, o atual presidente brasileiro optou por se alinhar ao gigante americano; contudo, de acordo com Rubens Barbosa, a negociação do 5G pode ser um ponto de virada nessa relação: “O governo brasileiro deve usar o critério técnico, deve manter a equidistância entre as potências para dar apoio a um ou a outro baseado no interesse nacional”.

Caso o governo brasileiro opte por manter a postura atual e se contrapor veementemente à China, o impacto econômico pode ser desastroso. Isso porque o novo governo dos EUA, liderado por Joe Biden, deve adotar uma postura pouco combativa para com o país asiático e, portanto, deve assinar um acordo comercial (já em trâmite durante o governo Trump) que amplia a venda de produtos agrícolas para a China, principalmente soja e milho, o que colocaria em risco as exportações brasileiras.

Além disso, dado o crescimento que apresentou nos últimos anos, o gigante asiático “passa a abandonar sua política internacional de harmonia e passa a defender seus interesses como uma grande potência”, aponta Barbosa. Na semana passada, por exemplo, a embaixada chinesa na Austrália criticou autoridades deste país por declarações e decisões que contrapunham a China, incluindo a exclusão da gigante Huawei da licitação de rede 5G.

Os diplomatas chineses responderam a esses posicionamentos com ameaças de cunho econômico à Austrália. A China, por sinal, que compra cerca de 30% das exportações australianas, já iniciou esse movimento. Impôs tarifas na importação de cevada da Austrália, restringiu a importação de carne bovina, suspendeu a de carvão e deve aplicar medidas contra o vinho australiano.

“Sem as condicionantes geopolíticas da Austrália, alinhada aos EUA em questões que vão do mar do sul da China ao G5 e ao combate à covid-19, o Brasil se coloca em extrema vulnerabilidade ao escolher um lado na disputa entre EUA e China” completa o especialista.


Diplomacia e Interesse Nacional
A coluna Diplomacia e Interesse Nacional, com o professor Rubens Barbosa, no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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