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Brasil adota postura estratégica em relação à Nova Rota da Seda da China
Amâncio Jorge da Silva explica que a diplomacia brasileira, historicamente, tende a equilibrar relações com diferentes eixos globais
O Brasil tem se mostrado cauteloso em relação à Nova Rota da Seda, projeto internacional liderado pela China, que busca expandir sua influência por meio de investimentos em infraestrutura, transporte e comércio. Durante a visita de Xi Jinping ao Brasil não houve adesão formal ao programa Cinturão e Rota. Em vez disso, foi anunciado um plano de cooperação por sinergias entre programas brasileiros e chineses, preservando a autonomia diplomática brasileira.
Segundo o professor Amâncio Jorge da Silva, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, essa decisão reflete preocupações geopolíticas e econômicas, além de alinhamentos estratégicos mais amplos.
A Nova Rota da Seda busca criar uma rede de infraestrutura global financiada pela China. “A posição do Brasil é a preocupação de se colocar numa posição de apequenamento. Os países que fazem parte são de menor porte que o Brasil. Então, do ponto de vista de poder de barganha, fazer parte dessa iniciativa não traria grandes benefícios para o Brasil”, explica o professor. A alternativa encontrada, por meio de acordos de cooperação, permite que o Brasil colha benefícios estratégicos sem comprometer sua soberania.

Diplomacia brasileira
Além disso, há uma preocupação diplomática relacionada ao equilíbrio entre as relações com a China e os Estados Unidos. “A diplomacia brasileira tem preocupação com a ideia de que a adesão à iniciativa Cinturão e Rota significa um alinhamento automático com a China, o que não é verdade. Não é um acordo impositivo de implementação que gere restrições com outros parceiros.” Historicamente, o Brasil adota uma política externa de não alinhamento, o que evita preferências explícitas por qualquer potência global. O professor destacou que essa postura é ainda mais relevante no contexto do retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, cenário que pode intensificar sanções e retaliações contra países que fortalecem laços com a China.
O equilíbrio diplomático também busca evitar riscos associados à dependência econômica. O especialista mencionou o exemplo do Peru, onde um grande porto financiado pela China trouxe investimentos robustos, mas também monopolizou o controle da infraestrutura por três décadas. “Precisa ter um pouco de preocupação, de não criar uma dependência muito forte em função de investimentos de infraestrutura e depois não ter mais liberdade política, de ação, de decisão. Mas também não pode deixar de aproveitar esses investimentos”, afirma.
Brics e Mercosul
Essa postura estratégica reflete o interesse brasileiro em manter um papel ativo no Brics, bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas sem abrir mão de parcerias com outros grandes atores globais, como os Estados Unidos e a União Europeia. “O Brasil prefere ser mais universal nas suas relações internacionais. Sempre foi assim, parece se inclinar um pouco mais para o lado do Brics atualmente, mas sem perder essa perspectiva de conjunto.” Nesse sentido, o Brasil reforça sua busca por diversificação econômica e diplomática, ampliando o leque de possibilidades sem depender exclusivamente de uma única potência.
O acordo Mercosul-União Europeia também gera expectativas e perspectivas positivas. “É um grande acordo para o Mercosul, para o Brasil, para o comércio internacional, então realmente isso é uma mudança estrutural importante. E ela vem justamente neste momento em que há um tônus mais unilateral, eventualmente da política americana, que nos protege em termos de parcerias internacionais. Portanto, um terceiro grande parceiro comercial e de investimento, que seria a União Europeia, diversificando ainda mais, intensificando essa diversificação e revitalizando o Mercosul”, conclui.
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