Bolsonaro municia seu próprio impeachment nas manifestações do dia 7

É o que pensa o professor José Álvaro Moisés, ao observar que, nos eventos de ontem, Bolsonaro propôs medidas que burlam a autonomia e a independência dos Poderes da República

 08/09/2021 - Publicado há 3 anos

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Como não poderia deixar de ser, o comentário do analista político José Álvaro Moisés está todo centrado nas manifestações ocorridas ontem, em comemoração ao 7 de setembro, notadamente na participação do presidente da República. Para o colunista, as manifestações foram bastante significativas, mas não chegaram perto da previsão dos organizadores de que teriam 1 ou 2 milhões de participantes. Bolsonaro esteve presente nos eventos que ocorreram em Brasília e em São Paulo e discursou em defesa de pautas sustentadas por seus apoiadores, basicamente pautas antidemocráticas, pedindo a intervenção militar, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal e de parlamentares representantes da população.

Segundo Moisés, o presidente se concentrou especialmente na crítica pessoal ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito das fake news, o qual já enquadrou e até prendeu alguns dos apoiadores de Bolsonaro. Os eventos de ontem, para Moisés, dão margens a várias interpretações.

“Em primeiro lugar, parece claro que as manifestações não foram o golpe ou o contragolpe que alguns analistas tinham previsto, e mesmo que apoiadores do presidente tinham, de alguma forma, anunciado. Em segundo lugar, também ficou claro que o presidente preferiu falar aos seus apoiadores do que se dirigir ao conjunto da Nação, de certo modo alimentando assim a sua própria bolha, ou seja, daqueles que já o apoiam.” Em nenhum momento o chefe do governo mencionou as mortes derivadas da pandemia de covid-19, o desemprego de milhões de brasileiros, a inflação que afeta principalmente os mais pobres ou os graves problemas econômicos enfrentados pelo País. Ou seja, Bolsonaro não fez mais do que reforçar a sua narrativa de ataques antidemocráticos, especialmente contra o STF e o Congresso, sempre buscando o apoio de sua base mais fiel e radical.

“Outro aspecto é que as manifestações se constituíram, de certo modo, num ato de campanha eleitoral do presidente para concorrer à eleição – campanha fora de tempo é crime e isso é mais grave se envolve o uso de recursos públicos, como parece ter ocorrido nesse caso. É possível, portanto, que o presidente seja passível de uma acusação nesse sentido […] Mas o ponto mais controverso constitui o fato de Bolsonaro ter dado elementos para a atualização das propostas do seu próprio impeachment. Ao propor, em nome da Constituição, medidas que burlam a autonomia e a independência de alguns dos Poderes republicanos mais importantes, como é o caso do Supremo Tribunal Federal, o presidente pode ter oferecido precisamente a base para a abertura de um processo de seu impedimento.”

Para o colunista, essa é uma das principais consequências das manifestações que ocorreram neste dia 7 de setembro.


Qualidade da Democracia
A coluna A Qualidade da Democracia, com o professor José Álvaro Moisés, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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