Boa visão e boa razão

Até que ponto enxergar bem garante um bom raciocínio?

 28/08/2024 - Publicado há 3 meses

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Novas evidências, compiladas em um estudo e publicadas no periódico científico Ophthalmology, indicam que a reabilitação visual por meio da cirurgia de catarata está associada a uma melhor saúde mental. A boa visão seria um fator protetor ou uma consequência de uma pessoa dinâmica e bem ativa por outros indicadores de saúde partir em busca dessa reabilitação cirúrgica? Ou as coisas andariam simplesmente juntas? Para além disso, ter boa visão ajuda a prevenir doenças?

Segundo Eduardo Rocha, de tempos em tempos uma boa quantidade de estudos tem concluído que religiosidade e espiritualidade podem contribuir para minimizar ou atenuar efeitos de doenças, dos mais diferentes tipos. Pacientes encaram isso bem, a medicina respeita e reforça que pode ser um benefício sem prejuízos e sem efeitos colaterais. Mas, às vezes,  aparece um cientista, que vem interpretar os achados e conclui que não se trata de benefício direto da espiritualidade, resultado de oração ou intervenção divina, mas de atitudes conscientes como a moderação com os hábitos e cuidados com a saúde, muitas vezes associadas ao otimismo e de ações positivas também com a saúde. O colunista entende que a mesma ponderação vale para os ganhos em saúde em geral, no caso de uma pessoa idosa conseguir melhorar a visão. Teria uma melhor visão a capacidade de melhorar o raciocínio e outras funções na terceira idade?

Um estudo recente na Universidade de Singapura mostrou, numa análise de 19 artigos prévios, que a cirurgia de catarata foi protetora para o déficit cognitivo, portanto, esteve associada a um melhor raciocínio entre as pessoas operadas. “Assim, uma possível conclusão seria que a cirurgia de catarata melhora não só a visão, mas melhora o raciocínio e previne a demência. Uma prova confirmatória desse achado seria, por exemplo, o fato de uma outra doença que causa perda de visão, como o glaucoma, ter maior associação com demência; porém, essa associação segue controversa”, atesta Rocha. Por outro lado, um outro estudo, também recente, não encontrou relação entre glaucoma e demência.

“Assim, mesmo que a hipótese da melhora da visão com a operação da catarata previna a demência e preserve o raciocínio seja uma possibilidade, ao ajudar o aporte no estímulo visual, mobilidade e autonomia, como ocorreu lá nas variáveis espiritualidade e religiosidade, essa conclusão não é definitiva, pois há a possibilidade de que o resultado simplesmente direcione um viés positivo para quem já possui bons indicadores de saúde, bons hábitos de vida e, portanto, esse sinergismo possa ser uma conclusão alternativa para esse achado. Mesmo que boa visão e bom raciocínio andem juntos, não necessariamente sejam causa e efeito um do outro, mas indicadores parceiros de uma boa saúde”, conclui o especialista.


Fique de Olho
A coluna Fique de Olho, com o professor Eduardo Rocha, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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