A avaliação da ciência é o tema da coluna Ciência e Cientistas. “Recentemente, tenho dedicado boa parte do meu tempo a uma atividade que todos os cientistas precisam fazer, mas que costuma despertar fortes reações: avaliar o trabalho dos outros. O conhecimento avança com os constantes questionamentos que cientistas fazem sobre os trabalhos uns dos outros, muitas vezes com críticas ferozes”, diz o físico Paulo Nussenzveig. “Depositamos confiança (embora jamais absoluta) nos resultados publicados em revistas científicas, porque passaram pelo crivo de pareceristas, que examinaram sua validade. Portanto, cientistas reconhecem plenamente a necessidade de avaliar… o trabalho dos outros! Como escreveu Segen, no British Medical Journal, em 1997, ‘avaliar a qualidade científica é um problema reconhecidamente difícil, que não possui uma solução padrão'”.
“A busca por avaliações justas, especialmente em processos de contratações e promoções em instituições acadêmicas, tem motivado diversas discussões e ações que merecem ser mais amplamente conhecidas na comunidade”, afirma Nussenzveig. “Com o crescimento exponencial de revistas científicas e de artigos publicados, a tendência de usar indicadores cientométricos em avaliações de revistas, de instituições e mesmo de indivíduos tornou-se sedutora para administradores acadêmicos. Ela também é reivindicada por muitos como forma ‘objetiva’ de avaliar.”
“Dentre os indicadores mais populares estão os fatores de impacto das revistas (que indicam, em média, quantas vezes cada artigo publicado na revista é citado em outros trabalhos, durante um período de dois anos), os índices quantitativos de publicações e citações dos pesquisadores, assim como seu ‘fator h’ (que compara o número de artigos publicados por um autor com o número de citações recebidas por cada artigo; o índice fornece o maior número de artigos h, que receberam pelo menos h citações)”, aponta o físico. “A avaliação de cientistas não se presta a esse tipo de padronização que, ainda por cima, fornece incentivos perversos, contrários à natureza da busca por conhecimento: ‘Quando uma medida se torna um objetivo, ela deixa de ser uma boa medida’, conforme Marilyn Strathern, em análise sobre o sistema universitário britânico.”
Ciência e Cientistas
A coluna Ciência e Cientistas, com o professor Paulo Nussenzveig, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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