Aumento de juros é um “remédio” para manter a inflação baixa

Aumento das “commodities”, depreciação do real em relação ao dólar e instabilidade política e econômica fizeram com que a inflação subisse e contaminasse diversos setores, diz Nakabashi

 12/05/2021 - Publicado há 3 anos

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No momento em que a economia está praticamente estagnada e pode crescer pouco ou mesmo apresentar um retrocesso no primeiro semestre, o Banco Central (BC) começou uma nova trajetória de aumento dos juros. Esse é o tema da coluna Reflexão Econômica desta semana. Segundo o professor Luciano Nakabashi, os juros são o principal instrumento para controlar a inflação de uma economia via nível de atividade econômica.

O professor explica que na economia em crescimento há uma redução do desemprego, que leva as empresas a terem dificuldades de empregar novos trabalhadores e, consequentemente, uma pressão por aumento salarial, que é repassado para o preço do produto. Nesse cenário, o BC aumenta os juros, o que eleva o custo do capital, com isso reduz-se investimentos e consumo, especialmente a compra de imóveis e a realização de reformas, o que tende a desaquecer o mercado. “Um círculo que afeta a taxa de juros.”

Entretanto, diz o professor, neste momento de atividade fraca, também foi necessário o BC aumentar os juros, pois os preços estão subindo acima da meta. “A meta de inflação para 2021 é de 3,75%, com um intervalo que pode variar em 1,5 % para cima ou para baixo. Mas o IPCA, índice oficial de preços, já está bem acima desse intervalo superior.”

Esse aumento de preços, diz o professor, pode ter vários motivos, um deles é o aumento das commodities como ferro, milho, soja, açúcar e carne, por exemplo, que estão sofrendo aumento pela retomada de algumas economias e pela própria demanda. Outro motivo para o aumento dos preços, apontado pelo professor, é o câmbio. “O real se depreciou em relação ao dólar, o que foi revertido, mas, ao longo de 2020, o real se depreciou em relação ao dólar no momento em que o dólar estava depreciado em relação a outras moedas. Vários países tiveram moedas apreciadas em relação ao dólar, mas não o real.” E isso, afirma Nakabashi, foi decorrente da incerteza e instabilidade econômica e política no Brasil, “sobretudo em relação à sustentabilidade das contas públicas, o que leva à fuga de capital e, consequentemente, à depreciação do câmbio, que afeta o preço de uma série de bens comercializáveis”.

Ainda de acordo com Nakabashi, tudo isso causou um cenário onde a economia brasileira cresce pouco ou está praticamente estabilizada, com uma inflação que vem subindo e contaminando diversos setores. “A preocupação do BC é começar a controlar esse cenário, aumentando os juros, para manter a expectativa de inflação baixa, o que vai atrapalhar um pouco o processo de retomada da economia brasileira, um remédio amargo, mas necessário.”


Reflexão Econômica
A coluna Reflexão Econômica, com o professor Luciano Nakabashi, vai ao ar quinzenalmente,  quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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