Nesta coluna, o professor Paulo Nussenzveig conta a história do matemático-lógico-filósofo Kurt Friedrich Gödel para ilustrar como os cientistas, muitas vezes, carregam para sua vida pessoal as atitudes que desenvolvem na sua atuação profissional.
Gödel nasceu na cidade de Brno em 1906, época em que fazia parte do Império Austro-Húngaro. Atualmente, a cidade faz parte da República Checa. Gödel fez seus estudos na Universidade de Viena, onde ingressou aos 18 anos, interessado em estudar física teórica. Aos poucos, seu interesse foi-se dirigindo à matemática e à filosofia. Ele foi um dos integrantes do Círculo de Viena, buscando promover o resgate de valores do Iluminismo como forma de resistência diante do avanço do fascismo e do nazismo. Seu interesse foi progressivamente sendo despertado por fundamentos da matemática e questões lógicas inerentes a esses fundamentos.
Após a anexação da Áustria pela Alemanha, Gödel decidiu se mudar para Princeton, Estados Unidos (EUA). Em 1947, decidiu solicitar a cidadania norte-americana. O processo de naturalização envolvia uma audiência com um juiz, que entrevistaria testemunhas sobre o caráter do peticionário e lhe faria perguntas gerais sobre a Constituição e a história dos EUA.
Gödel se preparou intensivamente para a entrevista. Ao examinar a Constituição dos EUA, ele afirmou ter encontrado uma contradição lógica que permitiria a um indivíduo, sem desrespeitar qualquer lei, tornar-se ditador e introduzir um regime fascista, afrontando o desejo daqueles que redigiram o documento. Oskar Morgenstern, um economista e professor da Universidade de Princeton, amigo pessoal de Gödel, e o físico Albert Einstein, o alertaram para evitar o assunto durante a entrevista. Mas o rigor lógico de Gödel e suas convicções não lhe permitiram omitir a informação, mesmo arriscando-se a não ser aprovado.
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Ciência e Cientistas
A coluna Ciência e Cientistas, com o professor Paulo Nussenzveig, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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