As queimadas e suas consequências para a saúde humana

“O produto da combustão da biomassa em campo aberto assemelha-se muito em sua composição àquela do cigarro”, diz Paulo Saldiva

 Publicado: 02/09/2024 às 8:02

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As queimadas que acontecem em cidades do interior do Estado de São Paulo são o tema desta edição da coluna Saúde e Meio Ambiente. Paulo Saldiva chama a atenção para as consequências para o meio ambiente, como a perda de fauna e flora, mas principalmente para aquelas relacionadas à saúde humana. “O produto da combustão da biomassa em campo aberto assemelha-se muito em sua composição àquela do cigarro, vamos lembrar que o cigarro é produto da queima de uma folha de um vegetal específico, que é o tabaco, contém então um conjunto de substâncias tóxicas que consegue afetar de uma forma diversa as superfícies a ela expostas: olho, a mucosa das vias aéreas superiores, e uma parte substancial chega ao interior dos nossos pulmões e de lá se espalha para o nosso corpo.”

Saldiva conta que existe na USP um grupo que participa de estudos há longo tempo sobre os efeitos desse tipo de produto de combustão sobre a saúde humana “e hoje nós sabemos que existe um momento, infelizmente expressivo, de adoecimento e de mortalidade quando existem esses episódios. Medidas de satélite indicam que a concentração desse material particulado atinge níveis muito elevados dessa fuligem nos períodos de queima e isso leva a um aumento de cerca de 5% a 6% das internações hospitalares e da mortalidade, especialmente nas faixas etárias entre 0 a 5 anos e acima de 70 anos. Os mecanismos para isso são inflamação, inflamação pulmonar e essas mortes e internações se manifestam pelas formas mais graves de acometimento”.

As mudanças climáticas globais e as alterações de morfologia urbana, prossegue ele, mostram que é preciso considerar questões ambientais não só como uma questão de fauna e flora, “mas lembrarmos também que somos uma fauna, uma fauna que interage e depende basicamente desses recursos naturais que o planeta nos fornece. Talvez essas crises auxiliem a mudança necessária e reorientem políticas públicas no sentido da preservação ambiental em benefício não só de biomas distantes, mas também da nossa saúde e das pessoas que amamos e da nossa própria subsistência e sobrevivência em alguns casos”.


Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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