Anvisa aprova novo tratamento para obesidade e sobrepeso associado a doenças

Márcio Corrêa Mancini fala sobre a nova injeção, que também trata diabete tipo 2 e não possui pedido para ser incluída no Sistema Único de Saúde

 31/01/2023 - Publicado há 1 ano
Mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e 22,35% estão obesos – Foto: Pixabay

A diabete tipo 2 é a forma mais comum da doença que, incluindo o tipo 1, atinge 16,8 milhões da população brasileira, segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes. Um dos tratamentos utilizados para o tipo 2 da diabete são as injeções contendo a molécula semaglutida. Porém, após notarem que um dos efeitos era a perda de peso, estudos foram feitos e o tratamento se estendeu até pessoas com sobrepeso relacionado a comorbidades e obesidade. No Brasil, o aval para a extensão desse medicamento foi dado pela Anvisa no final de 2022.

“A semaglutida é uma molécula que foi pesquisada em pacientes com diabete e se mostrou bastante eficaz no controle da doença. Além de controlar bem a diabete, eles tiveram alguma perda de peso. Lembrando que o estudo foi conduzido nos pacientes com diabete e não tinha como objetivo a perda de peso. Então, o laboratório investigou também em pacientes sem diabete, com o objetivo de perda de peso e ela mostrou bastante eficácia”, explica Márcio Corrêa Mancini, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. 

Márcio Corrêa Mancini – Foto: Arquivo Pessoal

Ele conta que, com a semaglutida, a aplicação tornou-se semanal: “Existe a liraglutida, que foi lançada há sete anos, em que a administração era diária. Então, com a semaglutida tendo uma aplicação semanal, passa a oferecer um conforto maior para o paciente. Não é uma injeção dolorida, mas, de qualquer forma, é uma rotina diária”. Além disso, a aplicação pode ser feita pelo próprio paciente.

Com a permissão da Anvisa, as pessoas com sobrepeso com doenças ou obesidade são incluídas no tratamento. Mancini ressalta que não é um remédio para todos, de livre acesso nas farmácias: “Não é simplesmente uma indicação para perda de peso, porque senão dá a impressão de que qualquer pessoa que quer perder dois, três quilos vai à farmácia comprar a injeção. É um tratamento para obesidade e, eventualmente, para pacientes que têm sobrepeso com outras doenças. É uma medicação aprovada com prescrição médica”. O público-alvo é: pacientes com o Índice de Massa Corporal entre 25 e 30, que seria o caso do sobrepeso, porém, associado a doenças, e aqueles com o IMC superior a 30, que é o caso da obesidade.

Acessibilidade

Mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e 22,35% estão com obesidade, segundo uma pesquisa do Ministério da Saúde realizada em 2021. Mancini analisa que, com o possível valor do medicamento, ele será acessível para uma parcela reduzida da população: “É um medicamento de custo bastante elevado, que, embora seja uma grande novidade, vai estar disponível para uma parcela muito pequena da população que pode pagar. O preço ainda não foi estabelecido pelos órgãos reguladores, mas, provavelmente, vai ficar entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00 por mês o custo desse tratamento”.

A injeção de semaglutida não possui um pedido para ser incluída no Sistema Único de Saúde. O professor coloca que, como o preço do medicamento é alto e a população que provavelmente o usará é grande, deve-se analisar outra alternativa: “A ideia é que, no futuro, consiga se aprovar o tratamento medicamentoso no SUS, provavelmente um tratamento de um custo mais baixo e até um tratamento mais simples de ser administrado por um grande número de pessoas”.

Mancini destaca que a obesidade não responde bem a tratamentos não farmacológicos como dietas, atividade física e aconselhamento nutricional: “É importante ter uma opção de tratamento farmacológico no SUS, porque o único tratamento disponível atualmente é a cirurgia bariátrica. Precisa ter um meio termo, porque a prevenção não está existindo e, a cada novo levantamento, a gente vê que a obesidade vem crescendo no Brasil”.


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