Martin Grossmann dedica esta sua coluna à mostra Amelia Toledo: Paisagem Cromática, até recentemente em cartaz no Mube – Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia. Com curadoria do artista Fernando Limberger e da geóloga Daniela Gomes Pinto, vale notar nas palavras do colunista que a exposição de fato se comportava como uma paisagem. “No entanto, esta não era só cromática, mas multidimensional, pois apelava diretamente ao sensorial, às nossas habilidades em reagir a diferentes estímulos, mesmo que de forma complexa, simultaneamente. Ali estavam muito bem dispostas cerca de cem obras da artista, incluindo peças inéditas e outras especialmente reeditadas para a ocasião. O que impactava logo nos primeiros momentos desta incursão no espaço desse museu, projetado pelo arquiteto paulistano Paulo Mendes da Rocha, era a extraordinária simbiose entre esse conjunto de obras e a arquitetura brutalista do museu. A simbiose não foi espontânea, uma vez que foi articulada, orquestrada entre os curadores e a arquiteta responsável pela expografia, Anna Helena Villela, que em cumplicidade, em sintonia, trouxeram um elemento básico para essa composição que está presente em boa parcela da obra da artista que viveu de 1926 a 2017.”
Grossmann destaca ainda a areia “que cobriu praticamente todo o chão do espaço interno do museu. A proposta está assim em sintonia direta com os conceitos da artista, convidando o público a ter uma experiência em ritmo de praia, de duna, em direta conexão com a natureza natural que nos precedeu, que foi substituída por uma natureza artificial, construtiva, que é a cidade na Modernidade. Amelia Toledo integrou uma geração de artistas experimentais brasileiros, relacionados direta ou indiretamente à Tropicália, movimento de vanguarda que reuniu diferentes artistas de diversas áreas da criação humana, como as artes visuais, as sonoras, as audiovisuais, as arquitetônicas, as cênicas etc. Entre eles, lembro de Lygia Clark, Anna Maria Maiolino, Hélio Oiticica, Glauber Rocha, José Celso Martinez Corrêa e Lina Bo Bardi. Esse experimentalismo vai do básico ao mais complexo. Explico: para Amélia, uma simples pedra poderia ser apresentada, seja em seu estado bruto ou em interação com processos diversos, sejam os mais tradicionais como os da gravura, como também os mais avançados, digitais, computacionais. Em sua integralidade, essa exposição de Amélia Toledo demonstrou que o imersivo na arte não acontece necessariamente nos cenários fake, instagramáveis de exposições digitais, virtuais, descartáveis, mas na materialidade, espiritualidade e introjeção de uma exposição composta de diferentes materiais, por múltiplos estímulos e sensações”, define Grossmann.
Na Cultura, o Centro está em Toda Parte
A coluna Na Cultura o Centro está em Toda Parte, com o professor Martin Grossmann, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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