Alterações extremas de temperatura também devem mobilizar a atenção da Defesa Civil

Paulo Saldiva argumenta que se deve aumentar a resiliência térmica e ampliar a zona de conforto térmico nas regiões mais vulneráveis da cidade, não se dando atenção tão somente a áreas de alagamento ou de risco de deslizamento de terras

 29/05/2023 - Publicado há 11 meses

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O crescimento das cidades e a vulnerabilidade das pessoas que vivem em situação de rua diante das mudanças climáticas são os temas selecionados pelo professor Paulo Saldiva para sua coluna quinzenal na Rádio USP e no Jornal da USP. Sua preocupação é com esses dias em que ocorrem extremos de frio e de calor, além de baixa umidade. A própria Prefeitura, nesses casos, encarrega-se de tomar algumas medidas de proteção à saúde, recolhendo as pessoas que vivem em situação de rua ou distribuindo cobertores quando a temperatura prevista chega a menos de 13° na cidade. Isso, segundo Saldiva, passa pelo conceito de que somente os extremos de temperatura, tanto altos como baixos, promovem danos à nossa saúde. Mas não é bem assim, adverte.

“Vamos pegar os casos presentes, aonde todas as portas de pronto-socorro, neste momento, estão lotadas, com filas de criança com síndrome gripal. É nessa época que o vírus influenza, o adenovírus e a variante da influenza viária H5N1, que está por aqui rodando, aproveitam-se do enfraquecimento que o nosso sistema respiratório tem devido ao frio e à baixa umidade. É como se o vírus tivesse mais facilidades para contaminar. De outra parte, essas ondas de frio também estão relacionadas ao aumento da pressão arterial, levando também, por sua vez, ao aumento de casos de infarto do miocárdio, descompensação de insuficiência cardíaca e AVC.”
O colunista lembra que cada um de nós tem a sua zona de conforto térmico, situação determinada por condições como genética, peso e altura, além de pelas nossas comorbidades. “Isso significa que nós temos que começar a incorporar, na previsão do tempo, não somente recomendações de se nós vamos levar casaco ou não, guarda-chuva ou não, ou se vai dar praia, mas também colocar informações para a saúde tanto do cidadão, para que ele controle melhor suas doenças crônicas, como também para as autoridades de saúde, para preverem a demanda que terão. Se a gente analisar o território urbano, nós vamos ver que, nas regiões onde existem moradias precárias, o risco desses efeitos é muito maior […] talvez tenhamos que dedicar um carinho especial e uma atenção de saúde especial e também de investimento urbano, para que aumentemos a resiliência térmica, ampliemos a zona de conforto térmico das regiões mais vulneráveis da nossa cidade, ou seja, não são somente áreas de alagamento ou de risco de deslizamento de terras, são as áreas aonde as mudanças de temperatura urbana, que ocorrem nessas localidades mais vulneráveis, também precisariam ser incorporadas ao ideário da proteção climática da Defesa Civil”, conclui ele.

Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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