A telemedicina é um avanço significativo, mas precisa ser estendida a todos

Para Luli Radfahrer, tudo se resume ao avanço da tecnologia, que precisa resolver as questões e as diferenças sociais, senão pode aumentar a diferença hoje já existente

 06/12/2024 - Publicado há 1 mês

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Como a tecnologia molda o acesso à saúde para diferentes populações? Na visão de Luli Radfahrer, nós vimos isso na pandemia, momento em que percebemos como a medicina está avançada – claro que com uma grande ajuda da telemedicina, que possibilitou progressos como aplicativo de saúde móvel,  plataforma digital conectando paciente ao profissional, pedido de exame no telefone, resultado de exame no telefone, entre outros. “O acesso ainda é desigual, tem população rural e de baixa renda que tem pouco acesso à internet de banda larga e que não entende como mexer no digital, ainda está distante, mas está muito melhor”, observa ele.

O problema, para Radfahrer, “é que o avanço da tecnologia precisa entender as questões e as diferenças sociais, senão pode aumentar a diferença que já tem hoje. O jeito mais fácil de entender é você pensar em um aumento de diferença por renda, quer dizer, algumas pessoas têm acesso a um tratamento, outras pessoas não têm, mas uma coisa muito mais delicada é a medição de dados – porque, veja só, se um tratamento é caro e, portanto, eu só tiro o sangue para fazer esse tratamento de homem branco, rico e de meia-idade, eu só tenho dados sobre homem branco, rico e de meia-idade. Eu posso garantir que esse tratamento vai funcionar para uma mulher de baixa renda, ou de outra etnia, ou uma criança que não teria dinheiro para fazer isso?[…] se eu só coleto dado de gente rica, de bairro rico, que tem problema de gente rica, eu não vou conseguir aplicar esse dado com eficiência para gente pobre, que mora em bairro de gente pobre e tem problema de gente pobre. E são problemas muito diferentes”.

“Eu preciso mesmo é acessar telemedicina para todo mundo, graças à telemedicina eu posso me consultar com um médico de Sergipe ou do Amazonas sem custar uma fortuna, porque ninguém precisa se deslocar, isso é ótimo; por outro lado também, para fazer certos exames eu preciso ter acesso a isso. A gente está falando de gente urbana, uma pessoa que está numa região rural, aqui mesmo, perto da cidade de São Paulo, não tem acesso à telemedicina, porque não tem sinal de telefonia para ela. Então, o que a gente precisa? A gente precisa expandir a infraestrutura de banda larga para poder dar acesso a todo mundo, a gente precisa entender que tecnologia sempre vai andar em dois passos, como uma valsa: o primeiro passo é o avanço, e isso naturalmente os mais ricos vão pegar, e o segundo passo é o da infraestrutura, e essa é para todos.”


Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.

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