A respeito de um certo prédio na Bela Cintra

O edifício Venezuela, perto da Rua Dona Antônia de Queirós, vai ser demolido, pois há muito tempo sofre o assédio do mercado imobiliário, que nada vê pela frente a não ser a lógica do lucro máximo

 14/11/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 19/11/2024 às 12:12
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O tema desta semana é a iminente demolição de um prédio na área central de São Paulo e o professor Guilherme Wisnik comenta sobre a situação do edifício, onde morou durante muitos anos e com o qual tem uma ligação pessoal muito forte. Trata-se do edifício Venezuela, que fica na Rua Bela Cintra, junto à rua Dona Antônia de Queirós. É um prédio do início do Modernismo, que data dos anos 40 ou início dos 50, é discreto, baixo, fica perpendicular à rua e tem uma árvore frondosa (uma seringueira) imensa na frente, cobrindo boa parte da calçada da Bela Cintra naquele pedaço. O edifício tem um grande jardim numa cota rebaixada – coisa rara nessa área de São Paulo, mais especificamente entre a Avenida Paulista e o centro. O projeto, quando foi feito, escolheu implantar o edifício no sentido longitudinal do terreno, que é perpendicular à rua e é uma lâmina apenas de quatro andares. Trata-se de um corte muito interessante, que deixa uma proporção muito grande do terreno como área livre para jardim, com piso drenante de terra. Enfim, uma área de escoamento de água de chuva.

O prédio foi vendido, pois há muito tempo sofria assédio do mercado imobiliário, e vai ser demolido. Os últimos moradores já o estão desocupando. Wisnik diz que a lei do mercado imobiliário é inexorável e que o preço da terra é em uma área muito valorizada e tudo isso acontece nesse tipo de situação tão particular, um prédio com uma área verde, com árvores centenárias e espaço de convívio muito generoso, é uma exceção tamanha em meio a uma cidade tão mesquinha, que precisava ter instrumentos de proteção, de manutenção, porque não se pode aceitar simplesmente que seja assim. “Então estamos fadados à destruição sempre total. Hoje em dia sabemos cada vez mais dos desastres ambientais, da emergência climática, que esse modelo de cidade baseado na impermeabilização do solo e na lógica do lucro máximo é um modelo que deu errado e que vai ser revisto. Que está mais do que na hora de ser superado.”


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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