“Temos acompanhado os vários desdobramentos da ocupação militar russa e suas atrocidades na Ucrânia, da sabotagem ao fornecimento de eletricidade que ameaça congelar os ucranianos no inverno à descoberta de centros de tortura russos na retomada cidade de Kherson ao míssil que atingiu a Polônia, um dano colateral (pois era um míssil defensivo disparado da Ucrânia) cujo efeito imediato foi persuadir a Otan a começar a enviar, aos ucranianos, equipamento mais moderno e preciso.
“Os ucranianos sofrem os efeitos de uma ocupação externa. Os iranianos, de quem se fala menos, estão submetidos a tanta ou mais violência e repressão: pode-se dizer que, durante esses dois meses de protestos, desde o assassinato em 16 de setembro da jovem Mahsa Amini, morta enquanto estava sob custódia da polícia da moralidade, sofrem os efeitos de uma ocupação interna, das autoridades religiosas e seu braço armado contra a sociedade civil.
“Como os ucranianos, os iranianos resistem. Sobretudo os jovens, como detalhamos em um podcast anterior. A contabilidade dos crimes cometidos pelo regime dos aiatolás é assustadora. Embora as informações sejam censuradas e circulem com dificuldade, fala-se em cerca de 400 mortos, gente desarmada e abatida a tiros no país inteiro. Os presos chegam a milhares.
“Nesta semana, surgiu a notícia de que 15 mil pessoas, 15 mil!, haviam sido sentenciadas à morte pelo simulacro de Judiciário do país. A divulgação das execuções foi inicialmente atribuída a uma declaração assinada por 227 dos 290 parlamentares do Irã, depois negada, já que da lista de signatários constavam nomes falsos. O Irã também não está imune às fake news.”
“De todo modo, o crime capital de que acusam 15, 150, 1.500 ou mais pessoas é o moharebeh, termo persa para ‘guerra contra Deus’, um delito tão vago que nele cabem todas as arbitrariedades. Duas pessoas foram condenadas à morte por portarem facas (ou seriam canivetes) nos protestos, outra por atropelar um policial quando tentava fugir da pancadaria e outra ainda por simplesmente liderar jovens que bloqueavam as ruas. Nesta semana, foram confirmadas cinco sentenças de morte. Os nomes dos condenados não foram divulgados.
“O Irã é o segundo país do mundo com maior número de execuções por ano. O primeiro é a China.”
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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