A esquerda e a necessidade de enxergar horizontes mais amplos

Guilherme Wisnik faz uma análise de um livro recente, que tem o 8 de janeiro como tema e que questiona o papel da esquerda atual

 30/05/2024 - Publicado há 6 meses     Atualizado: 03/06/2024 às 10:14

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Nesta edição de sua coluna, Guilherme Wisnik destaca o livro 8/1 : a rebelião dos manés: ou esquerda e direita nos espelhos de Brasília, de autoria de Pedro Fiori Arantes, Fernando Frias e Maria Luiza Menezes, que considera ser muito importante no modo como a esquerda pode se repensar hoje, tanto a esquerda brasileira como a internacional. “Porque o dispositivo crítico do livro é polêmico, é partir dos ataques de 8 de janeiro aos palácios de Brasília e deixar de lado ou criticar a postura mais comum dos grupos progressistas, que é taxar aquele bando  bolsonarista de gado, de terroristas malucos, de massa de manobra, e passar a procurar a entender, enxergando ali sinais de uma espécie de vanguarda. Por que vanguarda ? Porque o que os autores percebem é que tem num movimento como esse um pacto, um afeto revolucionário que a esquerda perdeu.  Isso é muito importante: quer dizer, de certa forma, a energia de transformação no mundo atual parece que se deslocou dos movimentos de esquerda para os de extrema direita e isso é que é estonteante”, constata Wisnik, na opinião de quem o efeito crítico do livro é  botar essas cartas na mesa “e parar e dizer ‘olha, precisamos olhar com mais seriedade para esse movimento, para nos repensarmos'”.

Para Wisnik, a partir da leitura que fez do livro, a esquerda ficou institucionalizada, elitista e arrogante, tendo se afastado da luta social. “Quem percebe a grande crise do mundo contemporâneo, embora, eles sejam os atores da crise, essa é a contradição, né – crise social, crise ambiental, crise política ideológica – parece que quem está percebendo e nomeando isso, até na forma apocalíptica do fim do mundo, são os evangélicos, é a extrema direita, e a esquerda não, parece que não há crise, vamos manter as coisas como estão, assegurar o status quo, então a análise que os autores fazem é fundamental para que a gente reoriente os horizontes da esquerda. A gente sabe que não está fácil, que de alguma maneira a esquerda ficou entrincheirada nessa defesa muito pequena, que já é muito, mas acontece que isso não vai nos levar a lugar nenhum, temos que botar a cabeça para fora e conseguir enxergar horizontes mais amplos”, conclui o colunista.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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