A atividade física não competitiva e a importância do lazer criativo

Renato Janine Ribeiro avalia que mais que o fator competição a prática esportiva deve contemplar o democrático e o popular, sempre tendo por meta o lazer

 14/08/2024 - Publicado há 1 mês

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Final dos jogos olímpicos na França e aparece aquela sensação de balanço e vazio também. No entanto, para o professor Renato Janine Ribeiro, o final dos jogos olímpicos deve sinalizar uma boa discussão sobre o que queremos em termos de esporte e de atividade física. “Mas lembremos uma coisa: os jogos olímpicos, a Copa do Mundo são espetáculos que as pessoas assistem do sofá, não são necessariamente momentos em que as pessoas se envolvem elas mesmas na atividade física.” E aqui o colunista remete à prática implantada no Sesc de São Paulo, que é a da atividade física não competitiva. “O negócio deles não era ganhar medalha, não era ver quem corre mais, quem joga melhor vôlei, era fazer com que as pessoas em geral – e não sei se especialmente, mas incluindo os mais velhos – tenham momentos de lazer criativo. Essa é uma grande ideia, lazer criativo, que veio de um sociólogo italiano que faleceu também há pouco tempo, Domenico De Masi.”

A ideia do lazer criativo, diz Janine, é a de um lazer inteligente, que teria duas bases: atividade física, independentemente de competir,  “para a gente manter inclusive a qualidade de vida, a qualidade mental, porque depende muito de as pessoas estarem bem de saúde para elas poderem pensar, criar e se divertirem. No segundo ponto, a cultura, então o espetáculo sim, mas não na vibe midiática, aqueles shows para dezenas de milhares, talvez mais de 1 milhão de pessoas, como se alega que houve já mais de uma vez na praia de Copacabana ou  mesmo na Avenida Paulista, em que eles multiplicam o número das pessoas por uns dados loucos –  a Avenida Paulista não comporta 1 milhão de pessoas, por exemplo, basta calcular o número de metros quadrados e ver que seriam umas 15 pessoas por metro quadrado, isso não cabe”, diz o colunista.

“O ponto importante: atividade cultural em que você aprenda a curtir um som, eventualmente a tocá-lo e a cantar, mesmo que você não cante bem. E atividade física também, que você não tem que ser perfeito, você tem que fazer as coisas corretamente para não se machucar, e para isso é importante ter instrutor, ter acompanhamento e tudo mais, mas dessas maneiras você pode desenvolver uma vida de mais qualidade para todos. Vejam, o Ministério dos Esportes tem três Secretarias: futebol, esporte de alto rendimento e a terceira cuida da saúde física para 200 milhões de pessoas, quer dizer, o mais importante de tudo, que melhora a vida de todo mundo, é apenas um terço do Ministério dos Esportes. Por isso, é importante pensar que a gente sai de um esporte competitivo, a Olimpíada, e tem que ir para alguma coisa muito mais democrática, popular e efetiva.”


Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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