Na última coluna Ciência e Cientistas do ano, Paulo Nussenzveig aponta que o desafio da pandemia tornou ainda mais evidente a importância da ciência nas sociedades contemporâneas. As mais altas taxas de letalidade do vírus sars-cov-2 ocorreram naqueles locais que escolheram ignorar ou menosprezar as recomendações dadas com base na melhor ciência disponível. “Infelizmente, o Brasil é o país com o segundo maior número de fatalidades, apenas inferior ao dos Estados Unidos. Porém, logo em janeiro, eles se verão livres do presidente obscurantista que elegeram em 2016”, diz.
O colunista lembra que a ciência ocupou vastos espaços nas mídias e redes sociais e divulgadores científicos ganharam importante visibilidade. Isso seguramente deixará reflexos positivos no futuro. Porém, as redes também amplificaram teorias conspiratórias, negacionismo da pandemia e partidarizações de questões técnicas, como isolamento social e uso de máscaras faciais. Cientistas deram respaldo ao fiasco da hidroxicloroquina, ora querendo enxergar benefícios que os testes não comprovavam, ora defendendo o uso mesmo sem qualquer comprovação de benefício. “A imagem de Jair Bolsonaro oferecendo hidroxicloroquina para as emas do Alvorada marcará para sempre essa época”, destaca.
Apesar de todas as dificuldades, o colunista quer encerrar o ano com uma mensagem otimista. “Nesta semana, vimos as primeiras imagens de pessoas sendo vacinadas contra o coronavírus. Essa é uma grande vitória da engenhosidade e tenacidade da espécie humana. Em um ano, identificamos um vírus novo, aprendemos seus principais mecanismos de transmissão, desvendamos sua estrutura genética e criamos diferentes vacinas, testadas e produzidas em tempo recorde. Jamais uma vacina havia sido aprovada para aplicação em seres humanos em tempo tão curto”, comemora.
Por outro lado, Nussenzveig alerta que nossos cientistas foram duramente colocados à prova pelo negacionismo, obscurantismo e seguidos cortes de financiamento do governo federal. “O governo de São Paulo apresentou dois projetos (PL 529 e PL 627) para cortar recursos das universidades e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), principalmente, e atropelar a autonomia dessas instituições”, conta. “Os cientistas se mobilizaram, resistiram, impediram a aprovação do PL 529. Ainda não está garantida a preservação da autonomia da Fapesp enquanto preparo esta coluna. Mas é certo que continuaremos trabalhando e defendendo a ciência com paixão e dedicação”, conclui.
Ciência e Cientistas
A coluna Ciência e Cientistas, com o professor Paulo Nussenzveig, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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