O governo anunciou R$ 1 bilhão para compra de até 500 toneladas de arroz produzido por pequenos produtores, além de afirmar que as políticas sociais são tratadas, pela imprensa e pelo mercado, como gasto e não como investimento. Segundo José Luiz Portella, os governos, ao longo dos anos, têm tratado o orçamento sob a perspectiva da intenção, confundindo o que é considerado um investimento com o que é simplesmente gasto. “Não importa se é para o bem ou para alguma coisa desnecessária, é um gasto. Se isso vai resultar em algo para a sociedade, é outra coisa”, afirma.
Portella esclarece que o orçamento não se limita a uma lista de despesas, mas é uma combinação de receitas e despesas. Ele diferencia dois tipos de recursos: custeio e investimento, explicando que o custeio se refere à manutenção de tudo que já existe e consome recursos públicos, enquanto o investimento está relacionado a algo novo. “Por exemplo, em uma estrada, quando você recapeia a estrada, aquilo é custeio, você está fazendo a manutenção da estrada. Se você construir um acostamento que não havia, algum trecho, um atalho da saída da estrada, isso é investimento”, exemplifica.
O especialista destaca que todo investimento, com o tempo, se transforma em custeio, já que a obra vai requerer uma manutenção. “Quando você constrói um hospital, depois de uns três, quatro anos, o hospital começa a custar, para mantê-lo, mais ou menos 85% a 90% do custo da obra, a cada ano”, complementa. Por isso, Portella comenta que quando são anunciados novos investimentos há um lado folclórico do qual não se calcula o custo de manutenção. Isso gera investimentos inacabados e mal mantidos, como hospitais sem um funcionamento completo.
Dessa forma, o entrevistado reflete sobre o risco de enxergar todo investimento como positivo, mesmo que existam alguns. “Quando você gastar dinheiro nisso, já é custeio. Quando você gastou a primeira vez, é investimento. Então, não tem nada a ver a questão falada pelo governo. Na verdade, a ideia de investimento e custo não está ligada à intenção. Se você gastar muito no ano em investimento, no ano seguinte você não vai conseguir fazer novos investimentos, porque você tem que manter, ou você vai fazer uma manutenção ruim e fica com uma máquina pública destroçada, que é o que normalmente acontece em vários municípios, nos Estados e na União”, conclui.
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