Apesar de o Brasil ser uma das maiores economias do mundo — com o Produto Interno Bruto (PIB) em ascensão —, a desigualdade continua a marcar a sociedade. José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da Universidade de São Paulo, traçou um panorama dessas desigualdades e seus efeitos nas políticas públicas do País, baseando-se principalmente nos dados extraídos do livro Extremos, de Pedro Fernando Nery.
“O Brasil tem um PIB que, em 2022, era o 11º no mundo; em 2023, passou a 10º, e nós estamos caminhando para ser a 8ª economia do mundo, passando a Itália e o Canadá. Mesmo assim, nós temos 100 milhões na pobreza aguda ou na extrema pobreza. Então, o Brasil não é um país pobre e foi o país que mais cresceu no mundo, mas que concentrou renda. Este é o problema”, afirma o especialista.
Segundo Portella, o 0,1% mais rico da população possui um patrimônio equivalente ao dos 100 milhões mais pobres. Ele ainda frisou que uma pessoa que ganha R$ 5 mil por mês já está entre os 10% mais ricos — o que evidencia o quanto a distribuição de renda é ruim —, enquanto 46% da população brasileira vive com até um salário mínimo. O cenário fiscal agrava ainda mais a situação, com alíquotas efetivas de imposto de renda muito mais baixas para os super-ricos, que chegam a pagar menos impostos, porcentualmente, do que aqueles que recebem salários menores.
O pesquisador explica que, como não há políticas únicas e focadas para acabar com a desigualdade, ocorre o surgimento de políticas compensatórias — que geralmente carregam em si uma injustiça, já que seria mais fácil gerar receita ou ajudar diretamente os mais necessitados. “Outro efeito é que isso vai drenando o dinheiro de grandes políticas, porque você faz uma vinculação de grandes receitas para quem não precisa. Então, tudo isso drena dinheiro de políticas públicas que poderiam amenizar muito o problema e até resolver em alguns casos. É assim que esses extremos acabam afetando as políticas públicas no Brasil”, conclui.
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