Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de jovens internados por ansiedade subiu 136% em dez anos. Para José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da Universidade de São Paulo, essa questão está diretamente ligada à falta de políticas públicas voltadas para a saúde mental da juventude.
Portella explica que, com políticas esporádicas e não articuladas, o resultado prático é praticamente nulo, o que causa um antagonismo formal ao não se preocupar com a saúde mental dos jovens, tidos como o futuro do Brasil. Além de problemas de ansiedade devido às mídias sociais, o que atinge até as classes mais ricas, o especialista comenta que isso está ligado a todo o processo de vida que a sociedade está instalando e estimulando, com polarização e agilidade na internet.
Ele complementa: “Para melhorar, não é só uma política de saúde mental, que óbvio que tem que acontecer, mas é sempre algo mais amplo, que pega toda a formação do jovem. Não há políticas, para isso, integradas”. Nos piores casos (como em Ipixuna, município do Amazonas que tem um dos piores índices de qualidade de vida), além da ansiedade, há uma total frustração, e até depressão, por causa da pobreza, das desigualdades, da baixa qualidade de vida, entre outros aspectos, que interferem na vida e na saúde mental desses jovens.
“Nessa preparação da juventude, vários pesquisadores falam de qualquer bolsa que ajude a criança, qualquer incentivo, qualquer estímulo. A Finlândia faz, outros países fazem e o Brasil não faz. Nas eleições todo mundo apresenta programas, a maioria inviável porque não tem orçamento, não tem nada. Em círculos diferentes, de classe alta, classe média, classe baixa, há uma reclamação de que os jovens estão doentes, mentalmente ou por causa da pobreza, e não há uma articulação. Tudo que se cobra, de qualidade de vida, aumento de produtividade, está contido em uma política para a juventude que, infelizmente, não há”, finaliza.
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