Levantamento do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), a pedido do Instituto Pólis, mostrou que um em cada três brasileiros entre os mais pobres deixa de comprar comida para ter dinheiro para pagar a conta de luz. De acordo com José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), ambos da Universidade de São Paulo, o resultado da pesquisa evidencia a extrema desigualdade no País, em que até mesmo a tarifa de energia elétrica concorre com as condições mais básicas de existência, como a alimentação.
Conforme o especialista, a implementação da tarifa social, a qual oferece desconto na conta de luz para as populações mais carentes, é apenas mais uma política compensatória que não vai diretamente ao ponto necessário para reduzir a desigualdade. Para ele, a redução das tarifas de luz ocorreria a partir da transição energética e investimento em novas fontes de energia sustentável, como a fotovoltaica e o hidrogênio verde.
“O Brasil tem muito vento, muito sol e muita água, então temos tudo para fabricar o hidrogênio verde. Os alemães já descobriram isso e estão investindo uma fortuna, a comunidade europeia botou R$ 10 bilhões na mão do governo federal para tocar projetos relativos a essa nova fonte energética do hidrogênio verde, sempre na tentativa do continente europeu de se desvincular do gás russo, principalmente no inverno”, explica.
Segundo Portella, pesquisas como essa expõem a necessidade de o governo investir em geração de emprego e renda ao invés de políticas compensatórias, além de focar na educação e no ganho de habilidades para exercer trabalhos mais qualificados e que geram maior renda. Ele conta que o imposto de renda negativo e a solução da desproporção de empregos em regiões mais carentes também são fatores que podem mitigar as desigualdades.
“O investimento em conhecimento profissional para que as pessoas tenham mais renda, combinado com o imposto de renda negativo, são políticas públicas de profundidade e poderiam de fato solucionar essas questões sociais. Dessa forma, poderiam ser evitadas essas políticas compensatórias, que aliviam os problemas, mas não os solucionam de fato”, finaliza.
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