Gradativamente, o processo de polarização se intensifica no cenário político brasileiro e os líderes de diferentes posicionamentos estão cada vez menos preocupados em entender as propostas de seus oponentes. Para José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo, essa contraposição de ideias sem o objetivo de escutar o lado oposto prejudicará o País também nos próximos anos, principalmente em 2026, ano de eleições presidenciais.
De acordo com o professor, o governo anterior foi responsável pela radicalização do sistema de polarização no País e o governo atual, que condenava essa atitude, acabou acelerando ainda mais esse processo. No momento atual, segundo ele, não existe diálogo e mediação e cada um dos lados é aclamado pelos seguidores, dependendo do quanto radicaliza, xinga e ofende o outro lado.
“Isso vai repercutir, nós vamos ter o ano eleitoral e depois a discussão do orçamento, que já vem com uma série de problemas de 2023 e 2024 e vai continuar em 2025. Também tem o início do segundo biênio, em que o presidente sempre perde a força, teremos a eleição para a mesa do Senado e a eleição para a mesa da Câmara, que sempre geram tensão, mesmo quando há um candidato favorito”, argumenta.
O especialista explica que, mesmo que alguns candidatos não possam participar dos processos eleitorais, os prejuízos para as políticas públicas ainda existirão, uma vez que sempre existe outra figura para representá-los. “ Então, como não houve classificação, pacificação ou frente ampla, nós vamos ter um prejuízo para as políticas públicas em 2024 e 2025. Em 2026 podem ocorrer fatores positivos, mas muito abaixo do potencial que o País poderia ter”, conta.
Conforme José Luiz Portella, a população está se tornando fanática pelas figuras políticas e isso está impactando a capacidade de se abrir para debater as propostas dos oponentes. “As políticas públicas, mesmo as que forem positivas, estarão aquém do que poderiam ser por conta desse quadro insano de uma polarização que tem muito mais uma visão de seita, de crença e de fé do que uma visão de ideologia de política pública, de conteúdo”, finaliza.
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