
Na última quarta-feira (05), o ataque a uma creche em Blumenau deixou quatro vítimas. O episódio levantou debate acerca da crescente onda de ataques em instituições de ensino, marcadas pelo comportamento violento. “Existe uma violência muito grande na raiz da nossa gênese”, afirma José Luiz Portella, doutor em História Econômica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados.
Desde o período colonial, o crescimento econômico brasileiro teve as relações de poder do Estado como um de seus alicerces, segundo Portella: “Ao olhar [para a história do país], você vê que todo empreendedorismo foi feito com grande base em violência”. Apesar de ser uma colônia portuguesa, o Brasil continha mais riquezas que a própria matriz, não somente derivada das matérias-primas primárias como também dos comerciantes brasileiros, como visto em História do Brasil com empreendedores, de Jorge Caldeira, obra relembrada pelo professor. Essa riqueza resultava em uma ação repressiva das forças portuguesas sobre os empreendedores brasileiros.
Nesse sentido, as bandeiras, processo de interiorização que construíram as dinâmicas sociais da sociedade paulista, também foram fruto de uma política repressiva, punitivista e colonizadora. Esse modo de operação teve alterações, mas apresenta o reflexo da aplicação das relações administrativas violentas: “Essa violência foi, nos últimos anos, sendo estimulada por uma política de armamento e pelo pensamento que o brasileiro conservador deve agir de maneira mais severa”, explica Portella.
Segundo o pesquisador, a resistência à ordem no Brasil gera reações institucionais que mantém as políticas públicas do País voltadas para a violência ou para a correção dessa violência. “A violência impacta nas políticas públicas porque ela retira recursos que poderiam ir para políticas construtivas – que se referem à saúde e educação, por exemplo – e absorve para instrumentos de combate à violência ou o tratamento das consequências desses atos”, explica Portella. Ele elabora que prevenção da violência recebe muito menos investimento do que o combate, em outras palavras, o mal não é cortado pela raiz, mas aparado nas pontas. Por exemplo, o direcionamento de recursos para o policiamento ostensivo em atividades de segurança pública sugere uma política combativa, não preventiva.
“Que Brasil somos nós?”, questiona Portella, que também responde, “um Brasil violento e que, em termos de políticas públicas, retira de políticas construtivas para tratar a violência e suas consequências. Ele conclui que “o resultado da violência nas escolas não é isolado” e sugere que adotemos um estilo de vida civilizado e pautado por políticas governamentais voltadas para os indivíduos.
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