No estudo de doutorado Fecundidade, identificação racial e desigualdade, desenvolvido na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, o economista Michael Tulio Ramos de França analisou como esses fatores contribuem para a manutenção das desigualdades. Ele foi o entrevistado desta quinta-feira (11) no podcast Os Novos Cientistas e nos contou como realizou sua pesquisa.
Desde quando estava na oitava série de uma escola pública, França percebia que algumas de suas amigas já tinham filhos, o que chamava sua atenção. Mais tarde, já no seu doutorado, resolveu então buscar associações entre a fecundidade e a desigualdade. “Sabemos que, de um modo geral, as mulheres ricas tendem a ser mães mais velhas e a ter poucos filhos. Já as mulheres pobres, ao contrário, são mães precoces e tendem a ter muitos filhos. E isso é um dos fatores que influenciam na desigualdade”, informou. “Embora o diferencial de fecundidade entre as mulheres pobres e as ricas tenha caído ao longo do tempo, ele continua expressivo”, salientou o pesquisador.
Em outra frente da pesquisa, França analisou a dinâmica da desigualdade ao longo do tempo no que diz respeito à identificação racial. Ele então testou a hipótese de que a TV afeta a percepção racial. “Naqueles municípios em que a Rede Globo chegou primeiro aumentou a probabilidade de os pais declararem seus filhos como brancos. Isso tendo em vista fatos como a imagem branca na TV estar associada com maior valor social”, destacou. “Os grupos populacionais são assim representados na televisão: de um lado você vai ter brancos aparecendo como um ideal de beleza ser perseguido e de outro os negros, representados com os estereótipos negativos”, enfatizou.