Pílula Farmacêutica #80: Álcool é a droga de abuso que mais causa danos ao usuário e à sociedade

Drogas ativam sistema de recompensa em regiões do cérebro com reforço positivo 100 vezes maior que qualquer recompensa natural

 03/08/2021 - Publicado há 3 anos
Pílula Farmacêutica - USP
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Pílula Farmacêutica #80: Álcool é a droga de abuso que mais causa danos ao usuário e à sociedade
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Com sério problema de saúde pública, o abuso e a dependência de drogas têm feito vítimas há muitos anos, a despeito da grande quantidade de informação disponível; por isso, a acadêmica Kimberly Fuzel, orientanda da professora Regina Andrade, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, apresenta, nesta edição do Pílula Farmacêutica, formas de atuação dessas substâncias no organismo humano.

O que são drogas de abuso?

Drogas de abuso, diz Kimberly, são substâncias que afetam o cérebro e alteram o humor, os estímulos e outros aspectos de seu funcionamento. Entre as mais conhecidas estão o álcool, o tabaco, as drogas ilícitas (maconha, cocaína, metanfetamina, heroína e crack), os estimulantes, os ansiolíticos, os analgésicos, além dos inalantes e solventes.

E o álcool, por ter a venda livre, é a droga que mais causa danos como mortes e acidentes tanto para o usuário quanto para a sociedade em geral. A acadêmica cita um estudo desenvolvido na Inglaterra que mostra esses números e coloca em segundo lugar a heroína e, em terceiro, o crack. A metanfetamina aparece em seguida e é a que mais cresce na quantidade de adeptos, seguida da cocaína, tabaco, anfetamina, maconha e, depois, as outras drogas.

Essa situação, informa Kimberly, causa grande impacto na sociedade, arrasando, além do usuário, família e pessoas próximas. E, ainda, engloba  violência e criminalidade, aumentadas pelo tráfico de drogas.

O que leva ao abuso de drogas?

Segundo a acadêmica, essas substâncias são psicoativas e causam dependência, caracterizada por um transtorno psiquiátrico de compulsão pela droga. Kimberly conta que essa dependência ocorre quando o organismo do usuário se adapta à substância e, quando retirada, causa efeitos opostos. “Se uma droga causa uma euforia, como é o caso da cocaína, quando ela é retirada, acontece uma depressão do sistema nervoso central”, exemplifica, acrescentando que o usuário perde o controle sobre o consumo, mesmo com prejuízos intensos com o uso.

Essa dependência é facilitada porque existe no sistema nervoso central uma parte chamada de sistema de recompensa que é ativada por recompensas naturais e funciona como um reforço positivo, conta Kimberly. Então, comer, beber, praticar esportes, sexo, ou outra atividade, como fazer compras, jogar videogame, podem ativar esse sistema. Mas, revela a acadêmica, essa mesma região do cérebro também é ativada pelo consumo de drogas de abuso e o reforço positivo gerado por elas “chega a ser até 100 vezes maior que qualquer recompensa natural”.

O sistema de recompensa é formado por três regiões no cérebro, responsáveis pela liberação de dopamina, “um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer”, conta Kimberly, exemplificando que, enquanto os alimentos podem aumentar em até 45% os níveis de dopamina, o uso de anfetamina e cocaína aumentam a mesma dopamina em até 500%. O que, segundo ela, justifica a dificuldade de cura do dependente. 

Como se classifica a dependência de drogas?

A classificação internacional de doenças considera como dependente o indivíduo que, nos últimos 12 meses de uso de determinada droga, apresentar pelo menos três dos seguintes diagnósticos: compulsão por consumo da substância; dificuldade para controlar o consumo; abandono progressivo de outros interesses; persistência do uso tendo consciência das consequências nocivas; necessidade de aumentar a dose para efeito desejado e consumo da droga para aliviar sintomas de abstinência. 

Kimberly alerta para a necessidade de procurar ajuda de profissional da saúde quando três desses sintomas forem observados.


Pílula Farmacêutica
 
Apresentação: Kimberly Fuzel e Giovanna Bingre
Produção: Professora Regina Célia Garcia de Andrade e Rita Stella
Coprodução e Edição: Rádio USP Ribeirão 
E-mail: ouvinte@usp.br
Coordenação: Rosemeire Talamone
Horário: segunda e quarta, às 10h40
Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 107,9; ou Ribeirão Preto FM 107.9, ou pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS .
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