Momento Sociedade #8: Cidades devem ser construídas da perspectiva humana

As teses do urbanista e intelectual dinamarquês Jan Gelh apontam que carros e construções individuais afetam a qualidade de vida no ambiente urbano, pois diminuem o espaço público. Além disso, estudo elaborado por universidades norte-americanas mostram relação direta entre longevidade e socialização

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 05/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 19/08/2019 as 12:54
Momento Sociedade - USP
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Momento Sociedade #8: Cidades devem ser construídas da perspectiva humana
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Como se formam? Quais os equipamentos urbanos? O que é a dimensão urbana? O pensador, professor, arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gelh construiu sua carreira com base no princípio de melhorar a qualidade de vida urbana por meio da reorientação do planejamento urbano, em favor do pedestre, do ciclista. Assim, desenvolveu uma série de conceitos.

“A partir da segunda metade do século XX, a partir de 1960, surgiram duas questões básicas que pioraram a vida das cidades: os carros e os edifícios individuais. Os primeiros invadem as vias, tomando o lugar das pessoas. Os segundos impedem a comunicação entre grupos. Cada instituição, cada órgão fica limitado ao seu prédio. Dessa maneira, o espaço público diminui”, alega, no Momento Sociedade, José Luiz Portella, doutorando em História do Pensamento Econômico na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), e ex-secretário de Transporte Metropolitano do governo José Serra.

Portella destaca um estudo feito nos EUA, com participação da Universidade do Texas e a Universidade Estadual de Ohio, que aponta a relação da longevidade com a socialização. “Então, o que está acontecendo, conforme o Jan Gehl, com essa ocupação dos carros, e a construção de prédios individuais que são ensimesmados, não se conectam com a cidade, é a diminuição do espaço de socialização. Consequentemente, do espaço público, criando uma sociedade mais fechada, cada um no seu umbigo, no seu indivíduo, ocasionando em cidades mais  violentas, e hostis. Por isso, com uma menor qualidade de vida”, declara.

“O dinamarquês diz que você tem que fazer a cidade a partir do solo. O ser humano é um ser frontal, que se move para frente e ele tem que ter a dimensão das coisas. Se você constrói, planeja a cidade do chão, você vai ver os equipamentos públicos, o ponto de ônibus sob outra perspectiva. Hoje nós temos centenas de milhares de pessoas que ficam sob os pontos de ônibus durante o dia. É um lugar onde chove dentro, faz frio, é difícil, é hostil. E bastaria uma construção vista do chão e olhando para o ser humano, para fazê-lo melhor”, aponta o doutorando.

“Trata-se de uma nova concepção de fazer cidades. A cidade não é esse crescimento desordenado, por essência. Ela poderia ser diferente, fica a grande lição para gente”, argumenta Portella. Jan Gelh foi o responsável pela implantação de um sistema cicloviário em Copenhague que é um dos melhores do mundo. Um exemplo de cidade feita para os homens.

O doutorando lembra que “as cidades se formaram para ajudar a melhorar a qualidade de vida das pessoas na verdade, por uma questão econômica. A partir do momento em que as pessoas se reuniam nas cidades, elas tinham mais possibilidades de arrumar emprego e vender seus produtos. Assim, se estabelecia o que se chama de mercado.” Portella indica que embora Brasília tenha uma renda elevadíssima para os patamares do Brasil, é apontada por Jan Gelh como uma das piores cidades do mundo, justamente por ser desenhada de cima para baixo.


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