O Momento Sociedade dessa semana discute um trabalho muito importante do Professor Emérito Fernando Henrique Cardoso, do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). O ex-presidente e sociólogo entrevistou empresários durante a mobilização para derrubar João Goulart da Presidência. A tese deu origem ao livro Empresário Industrial e Desenvolvimento Econômico no Brasil, de 1964.
“No limite a pergunta será então, subcapitalismo ou socialismo?”, questionou FHC no final de seu livro, se permitindo uma concessão à ideologia, segundo o doutorando em História Econômica José Luiz Portella, da FFLCH. A pesquisa apontou que a “burguesia nacional”- nos termos da época – tinha mais interesse em se associar ao empresariado de fora do que de ser senhora de uma economia autônoma.
“Hoje, nada mudou”, pontua Portella. Nos governos de Lula e Dilma Rousseff a figura do empresariado nacional reapareceu. “Agora, vinculado ao BNDES e às taxas de juros mais baixas do que as do mercado”, lembra. A Operação Lava Jato e outros escândalos colocaram a prática em contestação, reacendendo o debate. “Tudo deve mudar para que tudo fique como está”, declara o doutorando, citando o escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa.
Fernando Henrique, em sua pesquisa, se debruçou sobre as formulações de Celso Furtado e Hélio Jaguaribe, que, conforme Portella, “representavam o que se pensava na época”. A academia e setores da esquerda acreditavam que a nova classe urbana, chamada erroneamente de proletariado, deveria se unir a “burguesia nacional”, com o intuito de criar um projeto de desenvolvimento.
O ex-presidente “construiu tijolo a tijolo uma visão mais contemporânea do que de fato ocorria no Brasil”, defende Portella. FHC elaborou uma tipologia do empresariado nascente, na qual o empresário preferia o lucro do investimento estrangeiro do que predomínio sobre a produção local. “Por isso, ele não acreditava em um desenvolvimento autóctone”, conta.
A pesquisa se deu em sequência à tese de doutorado de Fernando Henrique, Capitalismo no Brasil Meridional, e serviu de base para o livro mais importante do sociólogo: Dependência e Desenvolvimento na América Latina. “Ele tateava os primeiros passos do que seria a globalização”, argumenta Portella.