Uma dose de cachaça, uma cerveja gelada ou uma boa taça de vinho fazem parte do cotidiano do brasileiro. Que o brasileiro gosta de uma bebida não é segredo para ninguém. Um levantamento recente, feito pela Organização Mundial da Saúde, apontou que o consumo de álcool no Brasil supera a média mundial. Entre os 194 países avaliados, o consumo médio mundial para pessoas acima de 15 anos é de 6,2 litros por ano. No Brasil, a média é de 8,7 litros.
Além disso, segundo o III Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, divulgado em 2019 pela Fiocruz, mais da metade dos brasileiros entre 12 e 65 anos de idade declarou ter consumido bebida alcoólica alguma vez na vida. Por isso, o consumo de bebida alcoólica e a saúde bucal é o tema do Momento Odontologia desta semana.
Problemas para a saúde bucal
“O álcool é danoso para a saúde bucal por diversos motivos”, garante Kellen Cristine Tjioe, doutora em Patologia Bucal pela Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP. A primeira razão, conta Kellen, é que o álcool provoca desidratação, que pode levar para a diminuição do fluxo salivar, “e como a saliva é a pré-limpeza da cavidade bucal, a redução da sua quantidade pode levar a um maior acúmulo de restos alimentares e, consequentemente, de placa bacteriana”. Além disso, a saliva ajuda a manter o PH equilibrado, enquanto a bebida alcoólica tem um PH ácido, “com isso nós temos uma potencialização da desmineralização dentária”.
As bebidas alcoólicas, principalmente a cerveja, também têm açúcares em sua composição, o que pode contribuir para o surgimento de cáries. Fora isso, “o maior acúmulo de placa bacteriana e a redução no fluxo salivar podem levar a problemas periodontais, gengivais e contribuir para o mau hálito”.
Segundo Kellen, “como há um maior acúmulo de placas bacterianas nos dentes, a gengiva, que está localizada próxima ao tecido dentário, também sofre alguns efeitos”. O álcool também interfere na circulação sanguínea local e também na resposta imune, levando a um desequilíbrio da resposta do tecido gengival. “Todos esses fatores podem levar à gengivite”, garante. E a gengivite pode evoluir para periodontite, que ocorre quando o tecido ósseo é afetado. A cirurgiã-dentista ainda afirma que pesquisas apontam que a má-higiene bucal é comum em usuários de bebida alcoólica, o que propicia o desenvolvimento da gengivite e da doença periodontal.
Câncer bucal
Uma das maiores preocupações nesta relação entre consumo de bebidas e saúde bucal é o câncer de boca. Segundo Kellen, o risco é ainda mais grave quando se combinam álcool e tabaco. “O risco de desenvolver câncer em pacientes que bebem e fumam é 15 vezes maior que em quem não bebe ou fuma”, destaca. Outro dado interessante, conta ela, é que entre 80% e 90% dos pacientes com câncer bucal são consumidores de bebidas alcoólicas e fumantes.
Recomendações
Apesar de não recomendado, não é proibido ingerir bebidas alcoólicas. Mas, nesse caso, alguns cuidados precisam ser tomados, destaca a especialista, já que “o consumo crônico contribui para o risco do desenvolvimento do câncer bucal e pode interferir na imunidade do indivíduo”. Se a pessoa gosta de beber, “a sugestão é realizar a higiene bucal após o consumo, para não ter o acúmulo do líquido na boca por um longo período de tempo”, destaca. Além disso, as visitas periódicas ao cirurgião-dentista são essenciais para avaliar o surgimento de qualquer condição adversa.
.