A violência doméstica é considerada um grande problema de saúde pública no Brasil. O problema é ainda mais grave para mulheres, crianças, adolescentes e idosos, que fazem parte do grupo mais vulnerável nessa questão, que atinge todas as classes sociais.
Além disso, a pandemia de covid-19, que levou à necessidade de isolamento social, tem contribuído para um aumento no número de casos. Dados mais recentes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos mostram que o Brasil teve mais de 105 mil denúncias de violência contra a mulher em 2020.
Em entrevista ao podcast Momento Odontologia, o professor Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, explicou que “o cirurgião-dentista tem um papel importante na detecção de uma das pontas do problema, as lesões físicas”. Isso porque, durante as consultas de tratamento odontológico, “é possível observar o comportamento e os sinais físicos decorrentes da violência”.
Mas nem sempre é simples identificar esses sinais, pois muitas vezes, diz o professor, o próprio agressor impõe uma série de barreiras de acesso à vítima, “acompanhando-a em todas as consultas, respondendo perguntas dirigidas a ela, simulando situações para a agressão, coagindo a vítima para que ela se cale ou minta sobre o que aconteceu ou alegando um acidente doméstico”.
“Sinais como hematomas, contusões ou lacerações na face, na cavidade oral, chamados ferimentos orofaciais, podem ser considerados sinais relacionados à violência”, diz. Além deles, lesões mais específicas, lábios machucados interna ou externamente, mobilidade ou fratura de dentes decorrente de trauma, a língua apresentando lacerações, “também podem ser considerados fortes sinais da violência”.
Em casos de violência doméstica, conta Melani, o primeiro passo é o acolhimento da vítima. Por conta da sensação de impotência, que é bastante comum nesses casos, é preciso ter cuidado durante a abordagem profissional, até mesmo para pensar no melhor tratamento a ser implementado, principalmente porque em casos como esses a cabeça e a face são bastante atingidas.
“O encaminhamento para outros profissionais é outro passo importante”, destaca. “Temos como consequência o transtorno de estresse pós-traumático, que deve ser acompanhado”, reforça o professor, que ainda complementa, ressaltando a importância de um aconselhamento psicológico, suporte socioassistencial e jurídico, além de denunciar os fatos, para inibir e punir o agressor.
Conta Melani que, para fazer a denúncia, a ferramenta oficial utilizada pelos profissionais da saúde é a notificação compulsória, produzida pelo Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan), que deve ser preenchida pelo profissional, identificando as lesões, e encaminhada às autoridades competentes.
“A notificação da violência doméstica vai contribuir para o dimensionamento da questão, evitando novos traumas físicos, psicológicos e até mesmo a morte das vítimas”, destaca. Além disso, para o professor, é importante que o tema seja cada vez mais discutido durante a graduação, “para que os futuros profissionais tenham um maior conhecimento do assunto”.
Para denunciar um caso de violência doméstica, a vítima, ou alguém próximo a ela, que saiba da situação, pode ligar no Disque 100, no Ligue 180 ou, então, para o 190.
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